Sul-coreano Jaha Koo regressa ao Porto com a nova peça de teatro “Haribo Kimchi”, servindo histórias de pertença à boca dos espectadores.
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Um sapo, uma enguia e um urso de goma encontram-se num “pojangmacha”, carrinho ambulante de venda de comida de rua, na Coreia do Sul. A orquestrá-los está Jaha Koo, ator e encenador que volta ao Porto com “Haribo Kimchi”, depois de nos ter presenteado com “Cuckoo”, em 2022, no Festival Internacional de Marionetas do Porto.
A nova criação do sul-coreano está em cena no Teatro do Campo Alegre, no Porto, e tem nova récita esta sexta-feira, às 19.30 horas.
As semelhanças entre as peças ou a marca de água de Koo, através de uma combinação de música eletrónica, vídeo e objetos robóticos, residem na escavação da cultura alimentar como uma linguagem denunciadora da estrutura de uma sociedade.
O cenário é dominado por uma tenda de plástico translúcido, com um teto vermelho vivo, íntima e melancólica. Neste dispositivo, Koo prepara pratos coreanos, para dois espectadores selecionados provarem, enquanto partilha histórias, algumas anedóticas, que misturam comida, identidade e migração.
A sua família, referência transversal nas suas obras cénicas, volta a “Haribo Kimchi”. Mais uma vez, a sua linguagem de amor consiste na comida de conforto que lhe enviam para Berlim, onde estava emigrado, resultando numa situação caótica e por vezes hilariante.
A performance destaca-se pela sua abordagem sensorial, onde os sons da cozinha – o borbulhar da água, os cortes cirúrgicos da faca, o chiar das panelas – criam uma experiência imersiva e intimista. Um recurso semelhante a “Cuckoo”, onde três panelas de cozer arroz eram as protagonistas menores para falar de um propósito maior.
Jaha Koo aborda temas como o racismo, a assimilação cultural e a nostalgia, utilizando a comida como metáfora para explorar a identidade e o sentido de pertença.
Numa charada servida à boca, Jaha Koo questiona os códigos sociais ocidentais com os que teve de conviver quando chegou à Europa. Se no princípio se assemelhavam indecifráveis, agora são premissas quotidianas.