Sondagem Legislativas: AD parte à frente do PS, mas está em perda. Chega em queda livre
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Se o país for para eleições antecipadas, a AD (33,5%) partirá na frente, com uma percentagem superior à que conseguiu nas últimas legislativas, ainda que já esteja a pagar o preço com a polémica da empresa de Luís Montenegro. De acordo com duas sondagens da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, realizadas em duas semanas consecutivas, o PS (28,8%) está a crescer, mas fica pouco acima do resultado do ano passado. O Chega (13,5%) está em queda livre, presumivelmente afetado pelos casos criminais de vários deputados e dirigentes, enquanto a Iniciativa Liberal (6,7%) está em maré positiva. À Esquerda, o cenário é de agonia, em particular para o BE (2,9%), um dos partidos que mais perde face a 2024 e que seria ultrapassado pela CDU (3%). Seguem-se Livre (2,7%) e PAN (1,9%).
É na terça-feira que o Parlamento vota a moção de confiança que, tudo indica, levará à queda do Governo e à antecipação de eleições. O presidente da República até já fez as contas, prevendo que os portugueses serão chamados às urnas a 11 ou 18 de maio. E como a vida política acelerou nas últimas duas semanas, isso que explica que haja, não uma, mas duas sondagens da Pitagórica.
A primeira foi realizada entre 23 e 27 de fevereiro, no âmbito dos barómetros mensais regulares, com uma amostra de 400 inquiridos e uma margem de erro de mais ou menos 5%, já depois das primeiras notícias sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, mas quando não eram ainda conhecidos, nem os clientes, nem os montantes pagos. O trabalho de campo da segunda foi alavancada para 625 inquéritos, com uma margem de erro de mais ou menos 4%, e decorreu entre 3 e 6 de março, depois do Conselho de Ministros extraordinário e da comunicação do primeiro-ministro ao país, do anúncio da moção de censura da CDU, e quando o PS prometia avançar com uma comissão de inquérito.
Um empate técnico e 16% de indecisos
Quando se comparam os resultados das duas sondagens, percebe-se que uma semana foi suficiente para a AD perder terreno, enquanto o PS passou para trajetória ascendente. Nos últimos dias de fevereiro, a diferença entre os dois era superior a oito pontos percentuais, na primeira semana de março já era inferior a quatro pontos. Uma tendência em linha com a avaliação dos portugueses ao primeiro-ministro: no início de fevereiro era o político mais popular, com um saldo positivo de 18 pontos (mais do que o presidente da República), mas está em perda acentuada, ainda que se mantenha acima da linha de água (saldo positivo de um ponto).
O cenário é de grande incerteza. Seja por causa da aproximação entre a AD e o PS, seja porque há, neste momento, 16% de indecisos (mais do que suficientes para uma reviravolta), seja porque, na verdade, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos estão numa situação de empate técnico. Tendo em conta a margem de erro da sondagem mais recente, o pior resultado possível para a AD (29,7%) é inferior ao patamar superior do PS (32,4%).
Se a comparação se fizer, no entanto, com os resultados das legislativas do ano passado, a AD tem motivos para algum otimismo. Os atuais 33,5% significam que está a crescer quase cinco pontos percentuais. Quanto ao PS, percebe-se que está estagnado: os atuais 28,8% significam que teriam apenas mais umas décimas do que em março de 2024 (e curiosamente um resultado idêntico ao da AD nessa última ida às urnas).
AD e PS sem parceiros para uma maioria
Tentando traçar um cenário de governabilidade, a partir dos resultados da sondagem mais recente, as sensações para o centro-direita são mistas. É verdade que os liberais (6,7%) estão a crescer e que isso faz com que, por agora, a soma da AD e da IL ultrapasse os 40 pontos percentuais (mais sete do que nas últimas legislativas). Isso não seria suficiente, no entanto, para chegar a uma maioria de deputados na Assembleia da República (116 de 230).
Mas o cenário é ainda mais nebuloso para os socialistas. Não só porque revelam dificuldades em tirar partido da crise dos sociais-democratas, mas porque, mesmo crescendo, parece quase certo que não teriam parceiros capazes de dar alguma estabilidade a um eventual Governo. A soma de todos os partidos mais à Esquerda, incluindo o PAN, é pouco superior a 39 pontos percentuais e quase dois pontos abaixo das últimas legislativas.
A única maioria aritmética que se vislumbra, neste momento, num futuro Parlamento, é a que inclui o conjunto da Direita, que soma nesta última sondagem quase 54 pontos percentuais (mais dois do que em março de 2024). Mas essa maioria teria de contar com o Chega, mesmo que enfraquecido.
Chega paga o preço dos escândalos criminais
A queda do Chega é, aliás, uma das principais notícias desta sequência de sondagens da Pitagórica. O partido parece estar a pagar o preço dos sucessivos escândalos criminais em que se envolveram alguns dos seus deputados nas últimas semanas (desde o roubo de malas no aeroporto, às suspeitas de delitos sexuais com menores), ao ponto de o próprio André Ventura se afundar ainda mais na avaliação dos portugueses (tem agora um saldo negativo de 58 pontos).
O partido da direita radical populista (na designação da ciência política) tem agora 13,5%, ou seja, perde quase quatro pontos de uma semana para a outra e quase cinco pontos relativamente às legislativas de 2024. Mas também é verdade que continua solidamente implantado no terceiro lugar (tem mais sete pontos do que a Iniciativa Liberal, que é o partido que se segue na tabela).
Muito dependente do eleitorado masculino, que no Chega representa quase o dobro dos votos das mulheres, é precisamente entre os homens que o castigo é maior de uma semana para a outra. Nota-se também uma debandada entre os mais jovens (18 a 34 anos), em que chegou a ser o partido mais “votado” em barómetros anteriores (a quebra é de sete pontos), e entre a classe média.
Panorama sombrio para partidos de Esquerda
À Esquerda poderá festejar-se a degradação da direita mais extrema, mas a verdade é que o cenário se apresenta sombrio. Antes de todos, o Bloco de Esquerda, quando a comparação se faz com as últimas eleições: perde um ponto e meio (pior, só o Chega) e arranca para a campanha eleitoral (a confirmar-se a queda do Governo) com 2,9%. A boa notícia é que, de uma semana para a outra, com a expectativa de eleições antecipadas no horizonte, subiu mais de um ponto percentual.
Os comunistas, que apresentaram, sem sucesso, uma moção de censura ao Governo, até são o partido mais bem colocado, entre os mais pequenos, com 3% na última sondagem. Mas perderam gás de uma semana para a outra e duas décimas no último ano. Um partido histórico da democracia portuguesa corre o risco de se tornar quase irrelevante, pelo menos em termos de representação parlamentar.
As notícias não são melhores para o Livre. O partido da esquerda eco socialista parte para uma nova etapa a perder dois pontos percentuais, entre a última semana de fevereiro e a primeira de março, e meio ponto face às legislativas de março de 2024: tem agora 2,7%. Quanto ao PAN, continua estacionado nos 1,9% e não parece aspirar a mais do que renovar o mandato de deputado único.
Fosso reduz-se nos homens e em Lisboa
Voltando à luta pelo primeiro lugar, a análise aos segmentos sociodemográficos das duas sondagens revela informações importantes (sendo que os resultados são apresentados sem distribuição de indecisos). Desde logo, quais são os portugueses que mais contribuíram para que o fosso entre AD e PS se reduzisse para metade, entre a última semana de fevereiro e a primeira de março: os homens (de sete para dois pontos, com vantagem para a coligação de centro-direita), os que têm 35 a 54 anos (de 12 para cinco pontos), os que têm melhores rendimentos (de 22 para 12 pontos) e os que vivem na região de Lisboa (de 12 pontos de vantagem para a AD, para quase um ponto de vantagem do PS).
Registe-se que Pedro Nuno Santos também recupera a liderança entre o eleitorado mais velho (55 ou mais anos), ainda que por escassas quatro décimas (31,1%) sobre Luís Montenegro (30,7%). Os dois principais rivais vão recolhendo mais apoio à medida que o eleitorado envelhece, como tem sido habitual, o oposto do que acontece no Chega que, no entanto, e como já foi explicado, sofreu um duro golpe entre os mais jovens (18 a 34 anos).
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No que diz respeito às classes sociais, e apesar da degradação acelerada entre os que têm melhores rendimentos, é ainda entre estes que a AD tem maior vantagem sobre o PS (12 pontos). Na classe média, a coligação de centro-direita tem uma vantagem de quatro pontos, mas, entre os mais pobres, é o PS que alarga a sua vantagem (dez pontos).
Em termos regionais, o PS passou a liderar no Centro e em Lisboa (neste último caso por menos de um ponto), enquanto a AD reina no Sul e ilhas (vantagem de 17 pontos) e no Norte, que, apesar de ser o segmento geográfico em que consegue a percentagem mais elevada (29%, sem distribuição de indecisos), é também a região que regista a maior queda de intenções de voto em Luís Montenegro de uma semana para a outra.
Ficha técnica
As sondagens de opinião foram realizada pela Pitagórica para o JN, CNN, TVI, TSF e O Jogo, sobre temas da atualidade nacional. Universo: eleitores recenseados em Portugal, de ambos os sexos e com 18 ou mais anos: 9 260 214 eleitores. A Pitagórica utilizou neste estudo a recolha dos dados através de entrevista telefónica, suportada por um sistema CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing, com validação automática e em sistema Auto Dial. Utilizou-se uma amostragem não probabilística cumprindo-se quotas por sexo, idade e distrito. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de telemóvel mantendo a proporção dos três principais operadores. A primeira sondagem, realizada entre os dias 23 a 27 de fevereiro, representa uma amostra obtida de 400 indivíduos; este valor traduz um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de ± 5,00%. Na segunda sondagem, realizada entre os dias 3 e 6 de março, a amostra obtida foi de 625 indivíduos; este valor traduz para um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de ± 4,00%. Responsabilidade do estudo e direção técnica de Rita Marques da Silva.