Caso de português raptado por perder droga de criminosos brasileiros chega a tribunal

Caso chega ao Tribunal de Lisboa
Mário Vasa / Arquivo Global Imagens
O arguido português, Francisco Martins, garantiu não saber que a carga continha droga, assegurando ter sido aliciado a vender café importado do Brasil.
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O Tribunal de Lisboa começa esta terça-feira a julgar sete arguidos num processo de tráfico de droga internacional e no qual um português foi raptado por membros da organização criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC) e da máfia sérvia, por alegadamente fazer desaparecer um carregamento de 240 quilos de cocaína num parque de estacionamento do Montijo.
Afinal tinha sido a PJ a apreender a droga sem que o grupo percebesse e, desde então, todos os movimentos foram seguidos. A PJ acabou por deter o grupo no momento em que o português era mantido em cativeiro, em Lisboa. O plano era levarem-no para Espanha para responder pelo desaparecimento da droga.
O processo começou com a apreensão dos estupefacientes dissimulados em café, na Alfândega de Alverca. O carregamento deu entrada no Porto de Sines em outubro de 2022, proveniente do Brasil. A droga pertencia ao Primeiro Comando da Capital, que se queria introduzir no mercado europeu, mantendo ligações a um grupo sérvio.
No dia 11 de outubro, Marcos Miranda, brasileiro do grupo PCC, levantou a droga que estava a ser vigiada numa empresa logística em Alverca, fazendo-se representar por uma empresa importadora de café. O arguido conduziu a sua carrinha cerca de duas horas, realizando manobras de contra vigilância na margem sul para despistar eventuais seguidores até que se apercebeu que estava a ser seguido. Deixou a carrinha num parque de estacionamento de um centro comercial do Montijo, onde Francisco Martins, português cúmplice de Marcos, o foi buscar.
Francisco tinha indicações para ir buscar a viatura estacionada com a droga, mas fê-lo no dia seguinte e não a encontrou. Na noite anterior, a PJ tinha apreendido o veículo e toda a droga. O português contactou Marcos e Wanderson Oliveira, outro arguido pertencente ao grupo PCC em Portugal, a comunicar que a droga tinha desaparecido e logo ficou a temer pela vida.
De acordo com a acusação do MP, as duas organizações envolvidas no tráfico, a PCC e a máfia sérvia, pensaram que Francisco estaria envolvido no desaparecimento da carga. Do Brasil veio Flávio Oliveira, condenado a 104 anos de prisão por matar uma família para a roubar, pena que, entretanto, viu alterada, sendo libertado em 2020. A intenção era pressionar o português para perceber o que tinha acontecido à droga.
Os sérvios Uros Piperski e Aleksander Stojkovic, compradores de droga, deslocaram-se de Espanha a Lisboa. Os três sequestraram Francisco e Marcos, agrediram-nos e pressionaram-nos a revelar onde estava a cocaína. Tencionavam mesmo levar o português para Espanha, usando-o como “garantia pessoal” da recuperação da cocaína, mas foram abordados pela PJ e detidos em flagrante delito. Respondem por associação criminosa, tráfico de estupefacientes, sequestro e coação agravada.
Marcos Miranda e Francisco foram detidos, mais tarde, fora de flagrante delito, por colaboração na prática do crime de tráfico de estupefacientes. O português alegou, em tribunal, não saber da droga, garantindo ter sido aliciado a comercializar café importado do Brasil, mas ficou em prisão preventiva.

