
Duna: parte Dois
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Os fãs tiveram de esperar, mas aí está nas salas “Dune – Duna: Parte Dois”
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Com estreia inicialmente prevista para novembro passado, a greve dos atores em Hollywood adiou a chegada às salas de “Dune – Duna: parte Dois”, com que o canadiano Denis Villeneuve conclui a sua ambiciosa adaptação da saga literária de Frank Herbert, monumental objeto de culto por parte de milhões de fãs em todo o mundo.
Estes dois filmes correspondem também às duas partes do livro que Herbert lançou em 1965, e de que o próprio assinaria mais cinco sequelas. Já depois da sua morte, ocorrida em 1986, o filho, Brian Herbert, juntamente com o autor Kevin J. Anderson, continuou a série com mais de uma dúzia de outros títulos.
Embora os conhecedores de cor dos livros de Frank Herbert já o antecipassem, o espetador de cinema menos familiarizado com a obra do autor decerto ficará surpreendido com o final em aberto desta “Parte Dois”. O próprio Villeneuve, apesar de estar já a dedicar-se a outros projetos, nomeadamente um muito antecipado “Cleópatra”, não renegou a ideia de pelo menos dirigir uma “Parte Três”.
Curiosamente, e depois da histórica Paramount não conseguir arrancar com nova adaptação, a Legendary Pictures adquiriu os direitos de adaptação das obras de Frank Herbert, mas só deu luz verde a Denis Villeneuve para um primeiro filme, com uma “Parte Dois” a depender do sucesso de bilheteira.
Mais uma vez a história das adaptações de “Dune” parecia ir correr mal, com a estreia prevista para finais de 2020 a ser adiada devido à pandemia. O filme acabaria por ter a primeira projeção oficial no Festival de Veneza de 2021, a poucos dias do lançamento mundial, a 15 de setembro. Nos Estados Unidos chegaria no mês seguinte, ao mesmo tempo nas salas e na plataforma HBO Max.
No entanto, todos respiraram de alívio. Para um orçamento estimado em 165 milhões de dólares, o filme rendeu mais de 400 milhões só nas bilheteiras. Iriam seguir-se dez nomeações aos Óscars, entre as quais o de Melhor Filme, e seis estatuetas conquistadas. A “Parte Dois” podia avançar.
Quando o segundo filme começa, Paul Atraides e Lady Jessica, juntamente com os Fremen, sofrem uma emboscada das tropas Harkonnen, mas conseguem salvar-se. Ao chegar a Sietch Tabr, apesar do apoio e da fé de Stilgar, há quem os considere como possíveis espiões. Mas, depois de passar algumas provas, entre as quais cavalgar um gigantesco verme do deserto, e jurando amor eterno a Chani, Paul enceta uma viagem em busca de vingança de quem lhe destruiu a família…
Naturalmente, Timothée Chalamet regressa como Paul Atraides, reencontrando ainda Zendaya (Chani), Javier Bardem (Stilgar), Josh Brolin (Gurney Halleck), Stellan Skarsgard (Barão Harkonnen) ou Charlotte Rampling (Madre Superiora Mohiam). Quanto a novidades, além de Florence Pugh como Princesa Irulan, Christopher Walken como Shaddam IV e Léa Seydoux na personagem de Lady Margot, o grande destaque vai para a escolha de Austin Butler como Feyd-Rautha, o herdeiro do império Harkonnen.
O ator está irreconhecível depois de vestir a pele de Elvis Presley e teve de passar por um intensivo regime de treino de quatro meses, em Budapeste, sob as ordens de um antigo fuzileiro norte-americano, de forma a criar uma personagem que, nas palavras de Villeneuve, é “uma mistura de assassino psicopata, campeão olímpico de esgrima, serpente e Mick Jagger”! São dele os melhores momentos desta “Parte Dois”.
Villeneuve gastou agora 190 milhões de dólares, mas o sucesso é de novo esperado. O realizador volta a usar uma paleta cromática muito saturada, com os castanhos do deserto a surgirem entre o branco e negro da disputa entre o Bem e o Mal, a música tonitruante de Hans Zimmer surge quando é necessária, há momentos de deslumbre visual que ficarão para sempre na retina. E há essa eterna luta entre o Bem e o Mal, numa combinação de vários imaginários, culturas, línguas e religiões imaginada pela mente transbordante de Frank Herbert e agora recriada por Denis Villeneuve.
De Jodorowski a David Lynch, as versões “falhadas” de Dune
Durante muito tempo considerado impossível de levar ao cinema, “Dune” conheceu alguns percalços antes da adaptação de Denis Villeneuve. Logo em 1971, a companhia de Arthur P. Jacobs adquiriu os direitos dos livros, pensando em David Lean para realizar. Como o britânico recusou, o projeto passou para as mãos de Charles Jarrott, a rodagem chegou a estar prevista para o início de 1974, mas a morte de Jacobs interrompeu o projeto. Com os direitos readquiridos por uma companhia francesa, a adaptação foi entregue a Alejandro Jodorowski. Conhecendo o universo do chileno, hoje com 95 anos, poderia ter sido uma das grandes obras-primas do cinema. Salvador Dali seria Shaddam IV e o elenco incluiria gente como Orson Welles, Amanda Lear, David Carradine, Geraldine Chaplin, Alain Delon ou Gloria Swanson.
A banda sonora seria dos Pink Floyd, Giger e Moebius começaram a desenhar os cenários. Com 14 horas de duração prevista, o orçamento disparou e o filme nunca viu a luz do dia. O documentário de 2013 “Jodorowski’s Dune” conta toda a história. Passamos para David Lynch, que assinou em 1984 uma versão produzida por Dino De Laurentiis, desprezada pelos puristas, amada por muitos cinéfilos e que é hoje fenómeno de culto. O ator-fétiche de Lynch, Kyle MacLachlan, é Paul Atraides, no elenco encontra-se Virginia Madsen, Brad Dourif, Silvana Mangano ou Sting. Para a história ficam ainda duas mini-séries de televisão, “Dune” (2000) e “Children of Dune” (2003)
