Trump? Putin? Inteligência Artificial? Novo apagão, mais teorias da conspiração
Falhas energéticas mais ou menos longas não são tão raras assim e deixam sempre espaço para explicações mais ou menos criativas, embora pouco lógicas. Porque é que um apagão não há de ser causado pelo além ou por razões políticas?
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Com a normalidade a impôr-se novamente, a grande questão que urge responder de agora em diante é a razão por detrás do apagão que deixou Portugal, Espanha e outros pontos da Europa às escuras e inativas. Possíveis explicações já não faltam. Ou é um ciberataque, ou foi Vladimir Putin. O Trump, talvez? Elon Musk? E a Inteligência Artificial? As teorias da conspiração logo emergem – neste caso, pouco porque as redes sociais também se calaram –, entretendo uns quantos até haver respostas definitivas, se as houver.
O desta segunda-feira não foi o primeiro apagão de sempre. Nas últimas décadas, eles até têm sido relativamente recorrentes tendo em conta a improbabilidade de tal ocorrer. E em todos as teorias da conspiração foram parte do fenómeno.
Nos dias que correm parece que o impulso imediato é ‘culpar’ a tecnologia e toda esta teia que nos conecta, tão à mercê de um ciberataque. Uma “catástrofe cibernética” anda aí a marinar, segundo alguns especialistas, e não é por acaso que a segurança cibernética é agora um assunto de Estado em todo o Mundo. Hoje, a tecnologia está para as teorias da conspiração, como outrora estiveram a política, o Comunismo, a extrema-direita, o imperialismo americano, os ovnis ou os extraterrestres.
Em 1965, partes dos Estados Unidos ficaram sem eletricidade cerca de 13 horas. Trinta milhões de pessoas foram afetadas, cerca de 800 mil ficaram presas no metro de Nova Iorque. Os danos materiais não foram muitos, mas a imaginação esteve ao rubro: há quem tenha dito que viu voar bolas de fogo. Outros atribuíram as culpas a uma suposta presença alienígena, enquanto uns viram no acontecimento uma resposta do Comunismo ao Liberalismo que então ganhava forma nos Estados Unidos, então invasores no Vietname. Nova Iorque voltou a ficar às escuras em 1977 e este apagão, provocado por um raio que caiu no rio Hudson, obrigou a fechar aeroportos e estações de comboio, para além do resgate de milhares de pessoas no metro. Houve centenas de assaltos e incêndios.
Mas o mais longo apagão de que há memória sucedeu em Auckland, Nova Zelândia, em 1998. Foi tão longo – cinco semanas – que as pessoas afetadas começaram a adaptar-se à vida dessa forma. Consta que, entre outras coisas, se habituaram a conduzir sem a presença dos semáforos.
De resto, também Brasil, Moscovo (Rússia), Chenzhou (China), Canadá, Índia e Venezuela já foram sujeitos a apagões severos só desde 1999. Em todos eles, claro, também se atribuíram responsabilidades aos fatores mais estapafúrdios, embora quase todos tenham tido explicações oficiais, seja lá o que isso signifique realmente, algumas delas também bem extraordinárias. Em 2003, na fronteiras que separa o Canadá dos EUA, a culpa foi de umas árvores; em 2008, Chenzhou ficou às escuras devido ao frio extremo. Em 2000, metade de Portugal ficou sem luz durante duas horas porque uma cegonha chocou contra cabos de alta tensão.
Em março de 2019, a Venezuela conheceu o maior apagão da história do país. Foram dois dias (7 e 8 de março) às escuras e o problema afetou serviços de transporte e água, e hospitais, dando origem a um vendaval de assaltos massivos nas maiores cidades. Morreram 23 pessoas. A causa foi uma falha na Central Hidroeléctrica Simón Bolívar e as explicações para essa avarias foram bastantes. Mas para Nicolás Maduro, presidente venezuelano, apenas uma fazia sentido. “A extrema direita é a autora intelectual e material deste ataque, feito com recurso a tecnologia de alto nível que apenas os Estados Unidos tem. É uma guerra pelo imperialismo americano contra o nosso povo”.
Afinal, se a Terra é plana porque é que um apagão não pode ser um produto do além?