A antiga provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa negou "profundamente" as acusações de “benefício próprio” feitas pela ministra do Trabalho e de Segurança Social para justificar a sua exoneração da instituição. Ana Jorge acusou a ministra de não ter a "informação toda sobre a atividade da Santa Casa”.
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“Com 50 anos de Função Pública, foi a primeira vez que fui desta maneira tratada e isso é algo impossível de aceitar nesta fase da minha vida. Portanto, sinto-me muito maltratada", referiu Ana Jorge à TSF, no dia em que são ouvidos no Parlamento os responsáveis pela Santa Casa nos últimos anos, nomeadamente Edmundo Martinho, o ex-provedor que levou a cabo o processo "falhado" de internacionalização dos jogos sociais.
A ex-provedora da Santa Casa da Misericórdia explicou, na Renascença, que o ano passado foi um período de “grandes reorganizações internas” e que a prioridade da sua equipa foi “encontrar soluções para os trabalhadores, melhorando principalmente aqueles que têm ordenados mais baixos”.
Na terça-feira, Maria do Rosário Ramalho acusou a provedora e a direção se terem beneficiado “a si próprios”. “Não beneficiaram de todo as pessoas que estão na operação”, lembrando que a maioria dos trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ganha o salário mínimo.
Ana Jorge realçou que "nunca em tempo algum” beneficiou “em causa própria”, explicando que as atualizações salariais decorreram de “acordo com aquilo que é a lei que existe na administração pública”.
À RTP, a ministra acrescentou que Ana Jorge “não fez nada” para reverter a situação financeira da instituição e explicou que o Governo decidiu exonerar a responsável face à “total falta de resposta” a pedidos de informação sobre a Santa Casa, rejeitando qualquer ideia de “saneamento político”.
Vai demonstrar no Parlamento plano de intervenção
Sobre estas acusações, Ana Jorge referiu que “em 12 dias [funções do Governo], a senhora ministra dificilmente terá informação toda sobre a atividade da Santa Casa”, vincou. À TSF acrescentou que a Santa Casa fez “um plano de grande intervenção com um ano muito duro”, prometendo demonstrá-lo com “números” durante a audição no Parlamento. Na mesma entrevista, a ex-provedora avançou que ainda não pensou se vai processar a ministra e que está “mais preocupada em demonstrar aquilo que foi feito”.
A exoneração de Ana Jorge aconteceu menos de um ano depois de ter tomado posse como provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a 2 de maio de 2023. A ex-provedora foi nomeada pelo anterior Governo de António Costa com a missão de recuperar os resultados da instituição que tinha herdado prejuízos nos últimos anos. A pandemia e o processo de internacionalização dos jogos sociais, durante a administração do provedor Edmundo Martinho, são apontados como os principais responsáveis por estes números.
O ex-provedor da Santa Casa é o primeiro a ser ouvido, esta quarta-feira, no Parlamento, na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão. Na audição, deverá explicar as perdas de 53 milhões da Santa Casa para investir em empresas no estrangeiro, nomeadamente no Reino Unido, Canadá, Peru, Moçambique e Brasil. Ainda durante esta manhã, vai ser ouvida a vice-provedora demissionário Ana Vitória Azevedo e, durante a tarde, o ex-gestor da Santa Casa Global, Ricardo Gonçalves, e o ex-secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias.