Dias Canales e Rubén Pellejero criaram nova aventura, repleta de referências, do célebre herói criado por Hugo Pratt.
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Ao retomar uma personagem há sempre duas opções: proporcionar uma versão de autor, de que são exemplo recente Lucky Luke ou Spirou, ou dar continuidade ao original canónico, como tem acontecido com Astérix, Blake e Mortimer ou Corto Maltese, alter-ego de Hugo Pratt.
Em "A linha da vida", décimo-sétimo álbum da cronologia oficial do marinheiro errante, de novo com edição portuguesa da Arte de Autor, Corto continua igual a si próprio: um idealista um sonhador, mas também apenas um peão no meio de acontecimento que muitas vezes o ultrapassam, apesar das suas tentativas de ser determinante ou de participar neles de alguma forma. No caso presente, reencontramo-lo no México em 1928, envolvido na chamada Guerra dos Cristeros, contra as leis anticlericais do presidente no poder. Na origem, Corto estava apenas de passagem, mas acabou forçado a comprar antiguidades a um arqueólogo pouco escrupuloso, sendo como sempre engolido pelas questões locais.
Com ele, ao seu lado - ou do outro lado - reencontramos Boca Dourada Rasputine ou a bela revolucionária irlandesa Banshee, mas também personagens reais como o coronel Enrique Gorostieta Velarde, comandante dos Cristeros, ou o aviador Charles Lindbergh, célebre por ter sido o primeiro a atravessar o Atlântico, preste a bombardear aqueles.
É com eles que Dias Canales, mais uma vez, desenvolve uma história de encontros e desencontros, de acasos ou de destinos, num discorrer a um tempo aventuroso e culto, em que as referências se multiplicam bem como os piscares de olho aos leitores, sempre suspensos de um final, que será inesperado e aberto.
A par da escrita de Canales, brilha também o traço do espanhol Rubén Pellejero, respeitoso para com o do mestre Hugo Pratt, mas cada vez mais autónomo e pessoal e servido por um belíssimo trabalho de cor que é parte determinante na caracterização de espaços e momentos.
Juntos, voltam a questionar o comprimento da linha da vida que Corto, sucessivamente, aumenta e altera para nos continuar a seduzir, álbum após álbum, numa das mais felizes retomas de que a BD tem memória.

