
Foram distinguidos quatro projetos do Serviço Nacional de Saúde por acrescentarem valor à prestação de cuidados. Os promotores da iniciativa querem dinamizar o uso eficiente de recursos e a melhoria contínua da qualidade da saúde em Portugal.
Corpo do artigo
A cerimónia pública de entrega das Bolsas Mais Valor em Saúde – Vidas que Valem promovidas pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, pelas consultoras Exigo e IASIST e pela biofarmacêutica Gilead Sciences decorreu esta semana (18 junho) no Showroom Altice, em Lisboa. Foram reconhecidas quatro equipas que desenvolveram outros tantos projetos que, no entender de Maria de Belém Roseira, são trabalhos inovadores “assentes na modernidade e replicáveis em qualquer Unidade Local de Saúde (ULS)”. A presidente do júri considera que “a transformação digital hoje já não é uma finalidade, mas sim um instrumento sem o qual nada é verdadeiramente possível atingir”. Entre 12 finalistas destacaram-se as ideias de saúde baseada em valor das ULS de Gaia Espinho, Santa Maria, São José e do Litoral Alentejano.
O doente no centro do sistema de saúde
Na área de abrangência da unidade local de saúde alentejana são as pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) as mais beneficiadas. “O nosso projeto vai identificá-las e integrá-las no sistema passando depois para uma fase de confirmação de diagnóstico e estratificação da doença que são fundamentais para o tratamento”. A explicação é de Carla Sousa. A fisioterapeuta e coordenadora do programa Consigo - Reabilitação Respiratória de Doentes com DPOC destaca a monitorização constante. “Estes doentes respiratórios vão estar sempre no nosso radar”, e acrescenta ainda o trabalho de capacitação com utentes e cuidadores para melhorar níveis de literacia em saúde. Nas unidades que gerem os maiores hospitais da capital foram reconhecidos dois projetos. A ULS de Santa Maria ganhou com o Serviço de Urgência Amigo do Idoso. “A ideia é criar uma rede em ambulatório para dar suporte a estas pessoas mais vulneráveis que recorrem muito às urgências e internamentos hospitalares”. A médica internista do serviço de urgência, Catarina Beckerman, afirma que será uma equipa multidisciplinar com médico, enfermeiro e assistente social a trabalhar neste projeto. “A nossa sociedade está cada vez mais envelhecida, é do interesse de todos e do SNS que estas pessoas que mais recorrem aos serviços estejam bem orientadas para evitar o recurso às urgências que sobrecarregam o sistema”.
As Bolsas Mais Valor em Saúde – Vidas que Valem têm o valor unitário de 50 mil euros convertidos em horas de formação e consultoria especializada.
Na Unidade de Saúde de São José foi premiado o Atento - Serviço de Telessaúde com Integração de Cuidados. A enfermeira Neuza Reis começa por explicar que o projeto agrega consultas à distância por telefone e videochamada e além da intervenção médica pode ajudar o utente com outro tipo de necessidade não farmacológica. “A partir desse ponto podemos também passar para um plano de reabilitação feito a partir do hospital enquanto o utente está no conforto do lar. É um serviço que fará também a transição com outros apoios de continuidade na comunidade e com os cuidados de saúde primários”.
Melhorar a governação clínica
Por fim, destaca-se o projeto de prática clínica 360 graus da Unidade Local de Saúde de Gaia Espinho que recorre a uma plataforma de medição de dados para quantificar o Value Based Heathcare que entrega aos utentes. “Aquilo que lhe interessa”, refere o médico Firmino Machado. “Seja qualidade de vida, a possibilidade de continuar a fazer a rotina diária, mas também procuramos saber se quando o doente foi à consulta os profissionais foram amáveis e se as infraestruturas eram adequadas”.
Há ainda outra dimensão para quantificar valor. “Analisamos os custos reais, o custo de tratar a Rosa, o António…”. Firmino Machado conta que é um contributo para gerar mais eficiência e responder às necessidades e ao que é mais valorizado pelos doentes no sistema de saúde. “Com estes dados, depois de analisados, apoiam-se as estruturas de topo para tomarem as melhores decisões, além dos médicos poderem personalizar tratamentos e melhorar a governação clínica”.
Concluindo a apreciação aos trabalhos vencedores, a antiga Ministra da Saúde e presidente do júri, Maria de Belém Roseira, considerou que “as administrações onde as ações são desenvolvidas comprometem-se agora, no âmbito desta iniciativa, a implementar os projetos distinguidos e a afetar-lhes recursos que possibilitem a respetiva concretização que vai reforçar as valências do SNS”.


