Naquela que já é descrita como uma das maiores (e mais embaraçosas) fugas de informação da História dos EUA, um jornalista foi adicionado por engano a um grupo ultrassecreto de que faziam parte vários oficiais da Admnistração Trump, e no qual se descreviam os próximos ataques militares contra os huthis, no Iémen.
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O que aconteceu?
Jeffrey Goldberg, diretor da revista "The Atlantic", foi inadvertidamente convidado para integrar um chat ultrassecreto em grupo, na aplicação Signal, com vários oficiais norte-americanos, onde se debatiam planos de ataque aos rebeldes huthis, que são apoiados pelo Irão no Iémen. A informação mais sensível foi partilhada apenas duas horas antes de os bombardeamentos de 15 de março acontecerem, mas o convite a Golberg foi enviado por Michael Waltz quatro dias antes, a 11 de março. O grupo no Signal intitulava-se "Pequeno grupo Houthi PC".
Quem estava nesse grupo?
Além do jornalista, foram adicionados os nomes do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, do secretário de Estado da Defesa, Pete Hegseth, e do Conselheiro Nacional de Segurança, Michael Waltz, além de John Ratcliffe, diretor da CIA, bem como de vários funcionários de segurança pertencentes a outras agências, num total de 18 pessoas.
O que se debatia nesse grupo?
De acordo com o jornalista, que publicou um artigo sobre o incidente, o material contido na troca de mensagens revelava detalhes operacionais dos próximos ataques aos rebeldes huthis, incluindo informações sensíveis sobre alvos, armas que o Reino Unido estaria a mobilizar e a sequência desses ataques.
Onde entram as referências à Europa?
Além das questões militares, entre as mensagens relatadas pelo diretor da revista "The Atlantic" estava a possibilidade de a Europa começar a pagar pela proteção americana em importantes rotas de navegação no Mar Vermelho, onde os rebeldes huthis têm atacado vários cargueiros. "Seja agora ou daqui a algumas semanas, serão os Estados Unidos que terão que reabrir essas rotas marítimas", escreveu a conta associada ao Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Michael Waltz, em 14 de março. Noutra mensagem, a conta de JD Vance referiu: "Simplesmente odeio resgatar a Europa novamente". Em resposta, o utilizador identificado como Pete Hegseth afirmou: "VP: Compartilho totalmente da sua aversão ao parasitismo europeu. É PATÉTICO."
Que ondas de choque foram sentidas?
Rapidamente a história transformou-se num escândalo político, militar e diplomático, dado tratar-se de uma das maiores violações de segurança militar da história recente dos EUA. Uma das maiores críticas dos democratas norte-americanos está relacionada com o facto de ter sido usada uma aplicação não autorizada para partilhar informação sensível. Por serem mensagens partilhadas fora dos canais oficiais do Governo - e de acordo com alguns especialistas cibernéticos - , pode estar em causa uma violação da Lei de Espionagem, que define regras precisas para o tratamento de informação confidencial.
Quem usa o Signal?
A famosa aplicação de texto é usada nos Estados Unidos sobretudo por políticos e jornalistas, devido aos seus códigos de encriptamento e à possibilidade de as mensagens, findo algum tempo, poderem ser apagadas. Tem cerca de 40 a 70 milhões de utilizadores globais mensais, mas não é tão popular como o Messenger ou o WhatsApp. Ao contrário das outras aplicações, permite que qualquer utilizador inspecione o código para despistar eventuais vulnerabilidades. Não tem fins lucrativos e é propriedade da Signal Foundation, organização sem fins lucrativos sediada nos EUA. O Departamento de Defesa dos EUA desaconselha o seu uso.