O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, anunciou que o partido não viabilizará a moção de censura do PCP, que diz ter "mordido o isco" de Montenegro. E assegurou que chumbará uma eventual moção de confiança.
Corpo do artigo
Foi sem poupar críticas à forma e ao conteúdo da comunicação ao país de Luís Montenegro que Pedro Nuno Santos deixou clara a posição socialista: o PS não vai votar a favor da moção de censura anunciada pelos comunistas, à semelhança do que já havia feito na iniciativa do Chega, e vai chumbar uma eventual moção de confiança ao Governo (que entretanto o ministro das Finanças afastou).
"O primeiro-ministro não respondeu a perguntas, vitimizou-se e atacou toda a gente. Foi prepotente e irresponsável", asseverou, acusando Montenegro de ter desrespeitado as instituições, os portugueses, os jornalistas e "as mais elementares regras democráticas", ao preferir "jogos políticos" e ao "fugir às responsabilidades", não respondendo aos meios de comunicação - a quem não foram permitidas perguntas no fim do discurso.
"O estrago está feito. Quebrou-se uma relação de confiança com o povo português", considerou Pedro Nuno, argumentando, ao contrário do que defendeu antes Montenegro, que "o primeiro-ministro não esteve em exclusividade nos últimos dez meses", por "continuar a receber avenças" da empresa da família ocupando o cargo de primeiro-ministro. "Quase todos perceberam o que aconteceu: o primeiro-ministro aceitou vender a quota que tinha numa sociedade de advogados para continuar a receber da empresa. A transmissão das quotas para os filhos não resolve nada", defendeu, sublinhando que "o PS não quer instabilidade", mas quer "os esclarecimentos que são devidos a todos os portugueses".
Discurso "sem coragem": "tentou transferir responsabilidade"
Lembrando a reação de Montenegro a propósito do caso do social-democrata Hernâni Dias - que disse ter sido "imprudente" -, o secretário-geral socialista questionou sobre o que dirá o primeiro-ministro em relação ao seu próprio caso, insistindo que o discurso desta noite "não foi claro no que pretende fazer". "Não revela coragem e tenta transferir para os outros uma responsabilidade que é só sua", considerou, acrescentando que o primeiro-ministro aproveitou para "fazer propaganda ao Governo".
No rol de pontos da governação exaltados durante o discurso, Montenegro "não disse aos portugueses que janeiro foi o mês, com exceção para o ano da pandemia, com mais desempregados inscritos no IEFP"; "não falou do caos e da instabilidade na Saúde"; "foi incapaz de falar nas greves do INEM e do relatório do IGAS" que apontou falhas ao Ministério da Saúde; e nada disse sobre a crise na Habitação. "Não é capaz de assumir responsabilidades nem assumir consequências do caso" em que está envolvido, resumiu, acusando o líder social-democrata de fugir ao "escrutínio". "Se o primeiro-ministro não se demite, que o assuma. Não transfira para a Oposição uma decisão é só sua."
PCP "mordeu o isco" ao apresentar moção de censura
Pedro Nuno Santos acusou Montenegro de ser "um dos principais fatores de instabilidade em Portugal, por ter continuado a receber avenças sendo primeiro-ministro, por recusar-se a responder a perguntas, por chantagear os portugueses e ameaçar o país com uma moção de confiança". Moção essa que, a existir, não contará com os socialistas: "O PS quer ser claro ao desafio do primeiro-ministro: se apresentar uma moção de confiança, nã oa viabilizaremos. Não temos confiança neste Governo."
Questionado pelos jornalistas, no fim do discurso, sobre a posição do PS perante a moção de censura anunciada por Paulo Raimundo, Pedro Nuno Santos lamentou que o PCP tenha "mordido o isco" lançado pelo Governo e assegurou que, tal como da última vez, não irá viabilizá-la.