Um grupo de ativistas, que inclui a sueca Greta Thunberg e uma eurodeputada, partiram no fim de semana da Itália em direção à Faixa de Gaza na embarcação Madleen. A iniciativa é uma tentativa de quebrar o cerco israelita e levar ajuda humanitária ao território palestiniano.
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O barco, com o nome da única pescadora em Gaza em 2014, zarpou no dia 1 de junho da Catânia, na Sícilia. Está a percorrer uma jornada de dois mil quilómetros que deve demorar uma semana, caso não haja disrupções – e pode ser acompanhada em tempo real pela Internet.
A carga inclui leite para bebés, farinha, arroz, fraldas, produtos de higiene feminina, kits de dessalinização de água, material médico, muletas e próteses infantis. “A Freedom Flotilla Coalition [FFC, Coligação da Flotilha da Liberdade] sublinha que este é um ato pacífico de resistência civil”, destacou o movimento, fundado em 2010.
Entre os 12 voluntários na embarcação, está a ativista climática Greta Thunberg. “Estamos a assistir a uma fome sistemática de dois milhões de pessoas. O Mundo não pode ser um espetador silencioso. Cada um de nós tem a obrigação moral de fazer tudo o que está ao seu alcance para lutar por uma Palestina livre”, declarou a sueca de 22 anos.
Há ainda nacionais da Alemanha, do Brasil, de França, da Espanha, dos Países Baixos e da Turquia. A eurodeputada francesa Rima Hassan afirmou que o “silêncio não é neutralidade”, mas “cumplicidade”. “O povo palestiniano em Gaza está a ser morto de fome e massacrado, e o Mundo assiste. Este navio não transporta apenas ajuda, mas também uma exigência: fim do bloqueio. Fim do genocídio”, acrescentou a política de origem palestiniana.
O movimento pede que os Governos garantam uma passagem segura. Na noite de terça-feira, a FFC reportou a presença de um drone, tendo confirmado depois que se tratava de um dispositivo de observação Heron – de fabrico israelita – da Guarda Costeira Helénica. Naquele momento, o barco estava a menos de dois quilómetros das águas territoriais gregas.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Effie Defrin, disse na terça-feira que os militares estão “preparados para defender os cidadãos do Estado de Israel em todas as frentes – no Norte, no Sul, no Centro e também na arena marítima”. Ao responder uma pergunta especificamente sobre o Madleen, o general frisou que as FDI estão “preparadas também para este caso”. "Adquirimos experiência nos últimos anos e vamos agir em conformidade”, acrescentou.
Outras embarcações atacadas
A iniciativa da FFC acontece um mês após a embarcação Conscience ter sido atacada por drones em águas internacionais perto da costa de Malta. O barco tentava furar o bloqueio humanitário por Telavive, que na época tinha acabado de completar dois meses. A organização acusou Israel de ser responsável pelo ataque que provocou um incêndio e deixou quatro feridos.
Em 31 de maio de 2010. os militares israelitas atacaram uma flotilha que tinha partido de Istambul e mataram nove ativistas no local – uma décima vítima morreu em 2014, após quatro anos em coma. O Mavi Marmara levava 10 mil toneladas de ajuda humanitária para o enclave que se encontrava sob bloqueio de Israel desde 2007. Em 2013, o primeiro-ministro hebraico, Benjamin Netanyahu, pediu desculpas pelo caso num telefonema com o então homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan.
Diversas iniciativas tentam levar apoio
O Madleen não é a única iniciativa que visa desbloquear o cerco. A “Marcha Global para Gaza” planeia partir do Cairo, no Egito, no dia 15 de junho e cruzar a península do Sinai rumo à cidade de Rafah, no Sul do enclave palestiniano.
A organização salienta que, por ser um “movimento pacífico”, não forçará a entrada na fronteira. “Nosso objetivo é negociar a abertura do terminal de Rafah com as autoridades egípcias, em colaboração com organizações não-governamentais, diplomatas e instituições humanitárias”, pontuou. “Não se trata apenas de apoio simbólico. Queremos entregar ajuda humanitária com uma forte presença civil para criar pressão moral e mediática internacional”, completou.
Uma coluna humanitária está a ser preparada também pela Coordenação de Ação Conjunta pela Palestina e partirá no dia 9 de junho da Tunísia. A “Somoud Convoy” passará pela Líbia e pelo Egito antes de chegar na fronteira com Gaza.