Novo ciclo de políticas velhas ou um ciclo de política nova para o Porto?
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Com a renovação de autarcas em vários municípios portugueses nas próximas eleições abre-se uma oportunidade única para inaugurar um ciclo de políticas novas nas autarquias de todo o país. Políticas novas que tragam às comunidades segurança social, habitacional e ecológica e que proponham visões para cidades e aldeias menos desiguais e mais acessíveis a todas as pessoas.
No Porto também se abre a possibilidade de fechar o primeiro quarto de século com a inauguração de um ciclo de política nova, progressista, alternativo ao modelo de governação e desenvolvimento que pôs o interesse de alguns à frente do interesse de todas as pessoas: uma política desassombrada que olhe para o futuro e que cuide de toda a comunidade
À direita parece haver herdeiro disponível e com apoios para continuar a política de alienação do espaço público e de indiferença pelo interesse da cidade. O PSD não vai abdicar do seu candidato nem das negociações com a direita toda, mesmo que seja com nins. Se a IL resistir à tentação, parece haver competição para o mercado da candidatura liberal. O Ch, claro está, mandará alguém para fazer de cebola queimada e amargar o sabor da discussão política. E como a (alta) sociedade civil está ativa, é ainda possível que outro candidato do centro-direita independente, próximo de Rio, possa reunir alguns ilustres, saudosistas das corridas da Boavista e dos aviões.
Neste cenário uma esquerda responsável assumiria um projeto transformador e progressista capaz de reinventar o modelo de governação e de desenvolvimento sustentável da cidade, actualizando-o para responder aos desafios sociais e ecológicos deste século.
Depois do último presidente socialista eleito ter sido Fernando Gomes nos idos anos 90, o PS conta tanto com a divisão à sua direita que parece não estar muito empenhado em fazer, no Porto, o mesmo que está a fazer em Lisboa para derrotar Moedas. Infelizmente para a cidade, Manuel Pizarro não reúne o consenso da esquerda mas talvez reúna algum consenso no quebrado centro e até no flutuante voto que elegeu Moreira três vezes.
Ao apostar numa candidatura que faz eco da ausência de políticas de habitação e de mobilidade e com vontade de ignorar os problemas estruturais causados pelas desigualdades e pelas discriminações que persistem na cidade, ao apresentar uma candidatura igualmente empenhada na promoção desenfreada do turismo e sem respostas para os desafios ambientais das próximas décadas, o PS está a dizer como quer tentar ganhar estas eleições: sozinho e sem qualquer intenção de diálogo construtivo à sua esquerda.
Porém, basta um pequeno desvio na concretização das expectativas para isso correr mal: basta, por exemplo, a direita e os independentes, sempre tão próximos, conseguirem sentar-se à mesma mesa para garantir a continuidade da política de mercantilização da cidade, talvez com a benção do presidente cessante.
Ou, o que é ainda mais provável, basta a esquerda do PS, progressista e ecológica, apresentar um projecto alternativo para a cidade que responda às sonoras reivindicações da verdadeira sociedade civil, dos corpos discretos ou invisíveis que habitam e fazem funcionar a cidade todos os dias.
Um projeto de política nova que abrirá o município ao diálogo construtivo com as cidades vizinhas para encontrar respostas metropolitanas para os problemas comuns. Uma política nova para dar resposta à carência de habitação a preço justo e à necessidade de garantir o direito a uma vida digna para todas as pessoas de todas as comunidades. Uma política nova que permita imaginar uma cidade mais verde e preparada para os desafios climáticos do futuro. Uma política que resolva os problemas de mobilidade, torne as ruas da cidade mais seguras e mais acessíveis e que promova comunidades saudáveis, inclusivas e intergeracionais. Uma política para uma cidade mais justa para todas as pessoas, mais democrática e com uma participação cidadã mais ativa.
É este ciclo de políticas novas que a maioria das pessoas deseja e, com a esquerda unida ou desunida, é este o projeto que a cidade merece ter para ir a votos nas próximas eleições autárquicas.

