Com as chamas a atravessarem de um lado para o outro as freguesias do alto concelho de Gondomar, na manhã desta quarta-feira, a zona de Branzelo, em Melres, entrava em fase de rescaldo, enquanto as chamas começavam em força na freguesia de Medas.
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Na Rua de Luís de Camões, Manuela Teixeira, 56 anos, há 26 a viver naquela casa, não tirava os olhos do sopé da mata, que tem nas traseiras da habitação. "Não consegui pregar olho toda a noite, isto é medonho", desabafou, perante uma madrugada passada com as chamas em frente à porta. "Só hoje de manhã, por volta das 8 horas, é que começou a arder aqui trás", acrescentou. Assustados, ouviam-se muitos cães a ladrarem.
Dois funcionários da União das freguesias de Melres e Medas, com um ar visivelmente esgotado, contaram ao JN que, durante a noite, tiveram de fugir de Melres, dada a fúria do fogo que corria solto. Com ramos de austrálias nas mãos, seguiam atentos as movimentações dos bombeiros e, a cada novo reacendimento no mato, apagavam a bater com os ramos no chão.
À chegada de dois meios aéreos (modelo 'Fire Boss'), duas outras funcionárias da Junta, Eugénia e Íria, respiravam de alívio. "A preocupação é que as chamas não cheguem perto da Central Térmoelétrica da Tapada do Outeiro", situada na margem direita do rio Douro, na bacia da barragem de Crestuma-Lever.
Mal caíram as primeiras jorradas de água na Rua da Doroteia, em Medas, para espanto de quem de madrugada viu o fogo a aproximar-se das casas, surgiu de carro o presidente da Câmara, Marco Martins, a acompanhar de perto o trabalho dos meios aéreos. "Se o vento acalmar e não houver reacendimentos, podemos vir a ter um dia melhor", desabafou ao JN, após ter confessado ter dormido "apenas três horas".
Quase ao lado, na Rua da Bela Vista, Adília Pinto, 49 anos, contava que estava "sem dormir. "O fogo está por todo o lado e não consegui pregar olho com medo que viesse na nossa direção", salientou a moradora, dando conta que "com o trânsito cortado em vários sítios" acabou por não ir trabalhar. "Por causa do fogo o meu marido foi ajudar aqui em baixo, e quando quis regressar a casa já não o deixaram passar e teve de dormir dentro do carro", acrescentou.
Enquanto os dois aviões descarregavam água junto a uma zona habitacional, com mato a arder mesmo em frente, a GNR apelava os moradores para a importância de "fazerem a limpeza dos campos". "A Junta é que deve fazer esse trabalho de avisar os proprietários", comentou um morador.
Já mais a baixo, junto às instalações do parque de campismo Campidouro, o responsável molhava as imediações com a ajuda de uma mangueira por precaução.
Mas, na Rua de Santa Bárbara, já depois do meio-dia, as chamas a devorarem o coração de uma mata pregou um susto a quem ali vive. "Estivemos a noite toda sem luz, sem água da companhia, sem bombeiros, sem nada e o pior é que à noite nem aviões andam".
O que é certo é que depois de três dias de sufoco, só mesmo com a chegada das duas aeronaves é que o fogo está a dar sinais de estar a perder o fôlego.
Ainda assim, e segundo a Câmara de Gondomar, "mantém-se o risco elevado de novos incêndios até esta quinta-feira, devido às condições meteorológicas, com ventos fortes que dificultam o combate e aumentam o risco de reacendimentos em zonas já controladas".