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Com as autárquicas à porta (estão marcadas para 12 de outubro), o tempo deveria ser de debate de ideias a nível local. O que podem fazer os candidatos a presidente de Câmara para ajudar a resolver o grave problema da habitação, que afeta todo o país, ainda que com escalas diferentes. Que soluções têm os futuros autarcas (ou os que já o são e querem continuar) para os desafios da mobilidade e a excessiva dependência do automóvel, em particular nas grandes áreas urbanas (não apenas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto). De que forma se propõem travar a regressão populacional, a estagnação económica e o envelhecimento, questão que aflige de forma particularmente dramática o Interior do país, ou seja, dois terços do território nacional.
Deveriam ser estes os temas a marcar a agenda mediática, mas na verdade não são. Tirando o ocasional candidato de Lisboa ou Porto e alguma polémica passageira, são as presidenciais, que só se decidem em janeiro do próximo ano, a concentrar as atenções da Comunicação Social (há exceções, como a do JN, que desde o início de julho dedica às autárquicas várias páginas e um espaço destacado nas suas plataformas digitais). E mais ainda quando agora até há um autarca, Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, em final de mandato e com vontade de entrar na corrida a Belém.
A acontecer, seriam já dois os candidatos independentes com elevado perfil político (o outro é o almirante Gouveia e Melo), havendo ainda a hipótese de se juntar Sampaio da Nóvoa. Quando a estes nomes somamos personalidades como Marques Mendes (social-democrata), António José Seguro (socialista) e António Filipe (comunista), e sabendo-se que falta ainda perceber o que fará o Chega, ou seja, se André Ventura sentirá que há uma janela de oportunidade, percebe-se o apelo. Estas podem mesmo vir a ser as presidenciais mais abertas da nossa democracia. Em todas as outras (com a exceção de 1986 e de Mário Soares), ou houve um vencedor quase antecipado ou, quando muito, uma disputa a dois.