Governo convoca embaixador israelita após ataque contra diplomata português na Cisjordânia
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português convocou, esta quarta-feira, o embaixador de Israel em Lisboa após o ataque do exército israelita a uma comitiva diplomática, que incluía um diplomata português, em Jenin, na Cisjordânia, que condenou “liminarmente”.
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As Forças de Defesa de Israel (FDI) dispararam “tiros de advertência” contra uma coluna com mais de duas dezenas de diplomatas de vários países, incluindo Portugal, que visitavam um campo de refugiados na Cisjordânia ocupada. O incidente, considerado uma “inconveniência” pelos militares israelitas, não provocou vítimas, porém, gerou uma crise diplomática entre Telavive e diversos países europeus, como Espanha, França e Itália, num momento em que a pressão internacional sobre as autoridades hebraicas cresce.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina acusou Israel de ter atirado “deliberadamente” contra “uma delegação diplomática credenciada” nos arredores do campo de refugiados de Jenin. De acordo com um diplomata europeu, citado pela agência France-Presse, o grupo deslocava-se “para ver a destruição” resultante das diversas operações militares israelitas na região.
As FDI argumentaram que “a delegação desviou-se da rota aprovada” e os “tiros de advertência” tinham como objetivo evitar que a coluna com os diplomatas fosse a “uma área onde não estavam autorizados a estar”. Contudo, as tropas de Telavive “lamentam o incómodo causado” pelos disparos.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal condenou “liminarmente o ataque do Exército israelita à comitiva diplomática”. Paulo Rangel “transmitiu toda a solidariedade ao embaixador português que integrava a comitiva e tomará as medidas diplomáticas adequadas”, assinalou o Palácio das Necessidades, em comunicado.
Condenação uníssona
A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, apelou a Israel para investigar o caso e responsabilizar os envolvidos. “Quaisquer ameaças à vida dos diplomatas são inaceitáveis”, frisou a representante de Bruxelas.
Madrid, uma das principais vozes opositoras ao Governo de Telavive, convocou o encarregado de negócios da embaixada israelita em Espanha, Dan Poraz, para apresentar um protesto formal. A diplomacia espanhola pediu “uma investigação imediata e transparente sobre este gravíssimo incidente, e respeito por parte de Israel, enquanto potência ocupante, pelo Direito Internacional, bem como a sua obrigação de proteger os agentes diplomáticos”.
A França, que tinha um diplomata na comitiva, classificou os tiros como “inaceitáveis” e convocou também o embaixador israelita em Paris “para oferecer uma explicação”. Ação similar à de Itália, que solicitou “esclarecimentos” do chefe da missão hebraica em Roma.
Outros Estados que condenaram o episódio incluem a Bélgica, o Egito, a Irlanda e a Turquia. Apesar de divergir sobre a revisão do acordo de cooperação entre a União Europeia e Israel, a Alemanha disse que o ministro dos Negócios germânico discutirá o “tiroteio sem provocação” com o homólogo israelita.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, está “alarmado” e exigiu uma “investigação completa” ao ataque, que considerou “inaceitável”.
Papa pede ajuda para Gaza
A revisão do acordo europeu com Israel é umas das medidas para pressionar a Telavive a levantar o bloqueio à Faixa de Gaza. A proposta foi apresentada na terça-feira, quando Israel autorizou 93 camiões com ajuda humanitária – ainda retidos, segundo a ONU, devido à burocracia de Telavive. A pressão chega também do Vaticano, com o Papa Leão XIV a classificar a situação no enclave palestiniano como “preocupante e dolorosa”, apelando à “entrada de ajuda humanitária suficiente” e ao “fim das hostilidades”.