Enquanto do céu caía chuva, das varandas caíam rosas, cravos e confetis. Não caiu Pedro Nuno, sempre bem amparado do início do fim. Na arruada em Santa Catarina, última da campanha socialista no Porto, o candidato a primeiro-ministro sentiu "a confiança do povo" de que tanto tem falado e apelou aos indecisos.
Corpo do artigo
Ao cimo da Rua de 31 de Janeiro, o autocarro de dois andares, com a cara de Pedro Nuno Santos estampada em ponto grande, a sorrir para a Torre dos Clérigos, não tinha nada que enganar. Era ali, na Praça da Batalha, baixa do Porto, que, por volta das 16.30 horas, se concentravam várias centenas de pessoas, acenando bandeiras de Portugal e do PS, à espera da chegada do líder socialista. Aconteceria meia hora depois, com o sol tímido a espreitar pelas nuvens, ainda que por pouco tempo: recebido apoteoticamente por quem o aguardava, o secretário-geral do partido e candidato a primeiro-ministro foi logo engolido por uma bolha de autarcas socialistas, militantes e jornalistas que o rodeariam durante toda a arruada, num exercício de salve-se quem puder que espantou até a própria equipa que acompanhava o candidato.
"Rosa, vamos lá embora? Vamos lá correr! Vamos lá correr!", disse Pedro Nuno Santos, animado, mal chegou e viu a atleta Rosa Mota, militante socialista, que segurava nas mãos um ramo de cravos, como tantas mulheres e tantos homens (maioritariamente da mesma faixa etária) em seu redor. Da Batalha até à Capela das Almas, a meio da rua de Santa Catarina, a caminhada de Pedro Nuno Santos - que não foi bem uma caminhada, foi mais uma prova de obstáculos, entre mecos da rua, poças de água e empurrões inadvertidos - fez-se sempre de olhos postos nas pessoas, que gritavam palavras de ordem com vigor, puxando, literalmente e metaforicamente, por Pedro Nuno.
"Quero que Abril dure para sempre"
O percurso, grande parte feito à chuva, ficou marcado por várias interpelações de pessoas que tentavam chegar até ao socialista. A todas as que conseguiram - algumas com um empurrãozinho do próprio, que pedia que se abrisse espaço para elas -, o secretário-geral do PS deixou a garantia que tem sido o slogan da campanha: a de que vai governar por todos, por um "Portugal inteiro".
Foi o caso de Sebastião de Almeida, 73 anos, militar de Abril, que não descansou enquanto não furou os braços que cercavam o candidato para o cumprimentar. Estava na Cavalaria n.º 6, então no Porto, quando se deu a Revolução, e quase 50 anos depois, foi a Santa Catarina para a renovar. "Hoje estou aqui porque quero que Abril dure sempre. Para além de ser militar de Abril, sou um trabalhador que está reformado e que precisa de aumento das reformas. Voto no PS sempre, desde o 25 de Abril", disse ao JN, elegendo como prioridades a melhoria dos salários, a bonificação das pensões e o investimento no SNS, capaz de reter os médicos e profissionais de saúde no setor público.
"O projeto do PS é andar para a frente e construir um futuro para todos. O povo português está connosco. Esse país invisível, que não está nas televisões, nem nas redes sociais, nem nas sondagens, está com o PS. E é esse povo que vai dar a vitória ao PS nas eleições de 10 de março", asseverou Pedro Nuno Santos, falando aos jornalistas, em resposta a questões sobre a ausência de históricos dirigentes na arruada e sobre sondagens desfavoráveis. "Nunca comentei sondagens nem comentarei. Sei que quem ganha as eleições é quem tem uma vitória no dia das eleições. Queremos mobilizar o povo português. Em Portugal, ganhamos as eleições com o povo português", acrescentou, ladeado por vários governantes e figuras do partido, como Francisco Assis, Manuel Pizarro, João Paulo Correia, Tiago Barbosa Ribeiro e os autarcas de Gondomar, Valongo, Gaia e Matosinhos.
Desafio aos indecisos
Dois gigantones a deambularem por Santa Catarina e, logo atrás, um grupo de bombos de Penafiel abriam caminho para a onda socialista e pelo mar de gente que a seguia. Da varanda do primeiro andar do Colégio D. Dinis, caíam pétalas vermelhas e brancas sobre uma cidade que raramente se veste dessas cores. E pelas varandas ao lado, saíam vários clamores por Pedro Nuno, que sorria, acenava e fazia um fixe sempre que lhe gritavam o nome.
"Não é só a quantidade de pessoas, é o ânimo, é o entusiasmo com que vocês estão. Esta força, esta vontade de continuarmos a fazer tudo para que Portugal seja um país onde vale a pena viver. Um país para todos, não só para alguns. Um Portugal inteiro, para toda a gente. Vamos apelar a todos os portugueses, ao povo que trabalha, ao povo que trabalhou a vida inteira, às mulheres de Portugal, para ganharmos no dia 10. Vamos mostrar a nossa força e continuar a governar para o povo, para todo o povo português. Vamos levar os nossos vizinhos, os nossos amigos. Que cada um leve um indeciso!", declarou, do cimo de um palanque improvisado, voltando a priorizar as pensões, os salários e o Serviço Nacional de Saúde. "Nós queremos andar para a frente, não queremos nem dar um passo atrás, só para a frente. A mudança boa é connosco, a mudança má é com eles. Connosco é para a frente."
Autor do hino de campanha é de Matosinhos
Pedro Nuno Santos viu José Barbosa no meio da multidão e chamou-o para um abraço. José, de Matosinhos, militante do PS, é o compositor do hino da campanha socialista nestas eleições. "Boa sorte", assim se chama, saiu-lhe por acaso e acabou por se tornar num dos símbolos sonoros da caravana socialista, contou ao JN já no fim da arruada, depois de o candidato ter entrado no carro que o levou para longe da confusão. "Escrevi o hino numa brincadeira, em Angeiras, e, a brincar a brincar, saiu essa música. Entrou no ouvido e ficou", disse o socialista, que não é estreante nisto de fazer hinos e campanhas.