“Num evento de paz e harmonia todos são filhos de Deus, mas eu não sou aceite”. São as palavras de uma mulher transexual que esteve no Parque Eduardo VII, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na passada quarta-feira, hasteando a bandeira da comunidade transexual.
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Em conversa com o JN, D. (prefere não ser identificada), de 21 anos, contou que começou por passear pelo evento com uma câmara, altura em que vários peregrinos a viam “e faziam poses”. Após algum tempo, voltou a casa e decidiu regressar ao recinto com a bandeira.
Afirma que passou pela polícia “sem problema nenhum” mas, ao entrar no espaço, vários peregrinos olharam para “como se tivesse matado alguém”, explica.
Conta que viu muita “gente com bandeiras” e questiona: “porque é que eu não posso trazer a minha? Estou na minha cidade e tenho orgulho na minha comunidade sub-representada".
Questionada sobre a motivação para levar a bandeira a um evento religioso, responde, sem hesitação: "Claro que é para chatear, mas num evento de paz e harmonia, todos são filhos de Deus. Mas eu não fui aceite só por levar a bandeira”.
D. garante que recebeu comentários de pregerinos estrangeiros a dizer para sair do recinto. Apesar de lhe dizerem que “Deus ama todos”, disseram-lhe que não devia erguer a bandeira em público. Quando três peregrinos tentaram arrancar a bandeira das suas mãos, o que garante ter acontecido várias vezes, chegou a temer que lhe “batessem”, embora o gesto não a tenha “surpreendido”. Já esperava que tal pudesse acontecer.
Tudo aconteceu entre as 20.10 e as 20.40 horas e garante que a situação fez com que não tenha “conseguido dormir”.
Diz que o vídeo que anda a circular pelas redes sociais e onde está registada uma das interações com um grupo de peregrinos, não ilustra as piores reações, "apenas as que filmei”. "Não era suposto rebentar nas redes sociais", afirma, revelando que o pretndia publicar apenas para os seus seguidores. “Como se espalhou, perdeu-se o contexto todo”, afirma. Conta que no recinto não recebeu “comentário nenhum de portugueses, mas na internet é outra história”, garantindo que está a receber muitas reações a acusá-la de só lá ter ido para as câmarase que "essa comunidade tem de ser abolida".
A sua publicação original no Twitter conta, até ao momento, com 496 comentários. No entanto, D. realça que, apesar dos comentários transfóbicos que recebeu na rede social e no evento, também recebeu apoio da comunidade LGBTQ+ e de vários peregrinos.
Na tarde do dia seguinte, quinta-feira dia 3 de agosto, D. recebeu uma mensagem direta no Twitter da rapariga que aperece no vídeo a dizer que "Deus ama todos, mas não devias fazer isso". “Porque publicaste o meu vídeo? Fiz queixa e encontrei uma foto tua. Apaga o vídeo, é melhor para ti”, escreveu em ingês. D. garante que não vai responder, mas que por causa deste e de todos os outros comentários que tem recebido nas redes sociais preferiu manter o anonimato por ter medo que a magoem ou à sua família.