Corpo do artigo
É inegável que Donald Trump foi eleito democraticamente, pelo voto do colégio eleitoral (e o voto popular). Todavia, tal não significa que os EUA se possam qualificar, de momento, como uma democracia liberal.
O ataque às liberdades individuais e ao Mercado Livre que o presidente tem perpetrado, contra instituições que considera rivais, não tem precedentes. Os tiques autocráticos de Trump estão a testar até ao limite o sistema de pesos e contrapesos políticos do país, sendo esta a sua principal marca da atuação. Da lista de alvos a abater, destaca-se um em particular, intrinsecamente ligado à economia americana: a Academia.
Para o presidente, as universidades estão contaminadas com pensadores e sistemas de ensino antipatrióticos (Trump confunde patriotismo com a sua agenda). Por isso, tem suspendido ou atrasado verbas e cancelado green cards a académicos estrangeiros nas principais universidades do país - Brown, Columbia, Harvard, Yale.
Para além de um estrangulamento de uma visão plural de sociedade, o ataque ao Ensino universitário é um ataque às fundações de uma das economias mais sofisticadas do Mundo. Uma economia que vive do conhecimento: apesar de representarem apenas 4% da população mundial, os EUA detêm 72% das 25 melhores universidades do Mundo.
Num Mundo de poucas certezas, existem dois fatores indubitavelmente ligados ao crescimento de qualquer economia: as qualificações e o progresso tecnológico (conhecimento). Estes dois fatores estão na base de processos de inovação. A inovação não segue um caminho linear - mas, nos setores com alta intensidade tecnológica, tende a surgir da academia. As universidades são o local de eleição para atividades de investigação, e que podem comunicar com grandes empresas ou com empresas mais pequenas, através de estruturas intermediárias.
Este percurso da Ciência permitiu, ao longo dos anos, alterar de modo paradigmático a estrutura económica dos EUA: em setores como o farmacêutico, o aeroespacial ou o das tecnologias de comunicação. Agora tudo isto é posto em causa.
O eleitorado que terá votado pela promessa de prosperidade económica poderá ser vítima das políticas contraditórias de Trump. Se é provável que a curto prazo as medidas protecionistas criem um surto inflacionista, é inegável que a guerra ao conhecimento vai provocar um abalo de longo prazo no crescimento económico da América - e do Mundo.
Resta saber com que magnitude.