Em muitos países, pelas mais diversas razões, os sistemas democráticos estão em crise. “É evidente que, no Mundo atual, a democracia não está de boa saúde”, disse o Papa Francisco no discurso de encerramento da 50.ª Semana Social dos Católicos na Itália, em Trieste.
O diagnóstico do Papa inspira-se no tema da semana, “No coração da democracia - Participar entre história e futuro”. A causa da doença é a indiferença e a falta de participação: é esse o “cancro da democracia”.
Para salvar a democracia, o Papa apelou ao envolvimento dos cristãos. “Tal como a crise da democracia é transversal a diferentes realidades e nações, do mesmo modo a atitude de responsabilidade perante as transformações sociais é um apelo dirigido a todos os cristãos, onde quer que se encontrem a viver e a trabalhar, em todas as partes do Mundo”.
É irónico que, como aconteceu em Portugal nas eleições legislativas ou na primeira volta das eleições francesas, uma maior participação dos eleitores se tenha traduzido num reforço dos partidos mais autoritários, para não dizer antidemocráticos. São também partidos que se aproveitam das fragilidades da democracia para dizer aos eleitores o que eles querem ouvir, recorrendo a falsidades que não são devidamente desmascaradas.
A associação da imigração à criminalidade é um exemplo desse jogo sujo. Propor o corte de benefícios sociais por uma minoria os receber de forma fraudulenta, ou não os utilizar para sair da situação de pobreza, é outro, como bem denunciou Carvalho da Silva, antigo líder da CGTP, em entrevista ao JN/TSF.
Para salvar a democracia não basta uma maior participação. É necessário que essa participação seja mais esclarecida e menos deformada por falsidades ou preconceitos ideológicos. Não nos esqueçamos que foi democraticamente que Hitler conquistou o poder.

