O pontificado de Leão XIV será marcado por um conjunto de questões fraturantes com as quais terá de lidar de perto. Temas como o celibato dos padres ou o aumento do papel das mulheres na Igreja Católica estarão presentes durante o seu mandato enquanto representante terreno de São Pedro.
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Tido como próximo do seu antecessor, deixa antever, a julgar pelas posições públicas anteriores, que fica aquém do progressismo evidenciado por Francisco durante os 12 anos de papado. Esteve envolvido em polémicas, nomeadamente relacionadas com casos de abusos sexuais que terá ajudado a camuflar. Também demonstrou antipatia por um acolhimento mais caloroso da Igreja a casais do mesmo sexo. Nunca deixou de se pronunciar em relação aos temas quentes que agitam águas no Vaticano e provocam divisões profundas entre as alas mais extremadas da cúpula da Santa Sé.
1. Abusos sexuais
É um dos calcanhares de Aquiles de Robert Francis Prevost. Em 2023, foi acusado de encobrir situações de abuso de menores por parte de dois padres, no Peru, quando encabeçava a diocese de Chiclayo. Já o ano passado, foi noticiado que terá ajudado a esconder situações idênticas ocorridas em Chicago, de onde é natural, durante as décadas de 1980 e 1990. Nunca se pronunciou publicamente sobre ambos os casos. No entanto, a hierarquia da Igreja garantiu que fez tudo para proteger as vítimas e castigar os prevaricadores.
2. Mulheres na Igreja
É um forte crítico da ordenação de mulheres, sequer como diáconas. “Tal não resolveria os problemas da Igreja Católica”, referiu, citado pelo National Catholic Register, deixando clara uma posição, aliás, muito próxima da refletida pelo Papa Francisco sobre esta questão sensível para o Vaticano. “Clericalizar mulheres não resolve necessariamente um problema, pode criar um novo problema”, apontou Robert Prevost numa conferência de Imprensa realizada em outubro último. No entanto, e também nos mesmos passos de Francisco, defende papéis relevantes de liderança feminina em órgãos católicos.
3. Comunidade LGBTQIA+
Se Francisco foi claro ao afirmar que gostar de alguém do mesmo género “não é crime”, o seu sucessor defende uma linha mais dura em relação a quem tem orientação sexual minoritária. Em 2012, o jornal “The New York Times” citou declarações de Robert Prevost que criticavam quem nutre “simpatia por crenças e práticas contrárias ao Evangelho, nomeadamente o estilo de vida homossexual e as famílias alternativas e seus filhos adotivos”. No entanto, apoiou o texto do Dicastério para a Doutrina da Fé “Fiducia Supplicans”, publicado em 2023, o qual deixou claro que o casamento deve ser sempre entre um homem e uma mulher, mas abriu portas à bênção de casais gays.
4. Celibato dos padres
O agora Leão XIV nunca deixou clara a posição em relação ao fim do celibato obrigatório dos pastores da Igreja Católica. Em 2023, quando celebrava o décimo ano de pontificado, Francisco abriu portas, embora não as tenha escancarado, a que um padre pudesse casar. “O celibato na Igreja Ocidental é uma prescrição temporal. A questão poderá ser revista”, admitiu. Na altura, Robert Prevost não se pronunciou. Como nunca se tinha pronunciado antes, aliás. Mesmo os círculos que acompanham de perto a atividade do Vaticano não lhe conhecem qualquer posição sobre a matéria, que permanece um mistério que agora poderá desvendar enquanto Papa.
5. Divorciados
Foi dos principais apoiantes do Papa Francisco quando este deixou claro que a Igreja deveria permitir que católicos divorciados comungassem na missa. Prevost nunca se opôs, pelo contrário, a uma decisão que permitiu a reconciliação com um setor de fiéis que a Igreja teimava excluir de forma incisiva. Da mesma forma, e também no seguimento de palavras claras deixadas pelo anterior ocupante da cadeira papal, nunca mostrou antagonismo a que casais unidos apenas pelo civil passassem a usufruir dos mesmos direitos religiosos atribuídos a quem contraiu matrimónio sagrado pela Igreja Católica.
6. Alterações climáticas
O novo Papa foi nos últimos anos das vozes mais sonoras e ativas do topo da Igreja Católica no apelo à “ação rápida” que trave os efeitos nefastos que as mudanças de clima provocam um pouco por todo o Mundo. Disse mesmo que o “Homem não deve ser um tirano” em relação ao ambiente e que deve adotar outro tipo de comportamento, de forma a salvar o planeta e a salvaguardar as gerações futuras. Numa conferência recente realizada em Roma, criticou os que sobrepõem o desenvolvimento industrial e tecnológico aos cuidados ambientais.
7. Sinodalidade
A abertura da Igreja a laicos e a católicos não praticantes, mesmo a outras religiões, tem sido defendida por Robert Prevost desde o início da sua vida pastoral. Segundo o site National Catholic Reporter, o norte-americano acompanhou e apoiou de perto a defesa do Papa Francisco de uma instituição mais aberta – ficou célebre a expressão “todos, todos, todos” proferida durante as Jornadas Mundiais da Juventude realizadas em Lisboa – e na procura contínua de inclusão. Numa entrevista concedida em 2023 ao site “Vatican News” foi contundente ao criticar “a polarização que divide os católicos”.