Adegas já funcionam com muita tecnologia, mas ainda há trabalho a fazer.
Corpo do artigo
“Evoluímos muito na adega graças a diversas áreas da engenharia. Agora, o grande desafio é irmos para a vinha e tirarmos o melhor que ali temos”. A constatação é de Olga Martins, diretora-geral da Lavradores de Feitoria, empresa sediada em Sabrosa, onde ontem se realizou um debate integrado no Roteiro de Engenharia na Vinha e no Vinho.
Na sessão de abertura da jornada, uma organização conjunta da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN) e da sua Delegação Distrital de Vila Real, arrancou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Na sessão de abertura, José Carlos Pinto, Delegado de Vila Real, lembrou que este roteiro junta-se ao périplo que a OERN tem feito pelos distritos, assinalando que, “quando a Delegação Distrital de Vila Real foi desafiada para a escolha do tema, não hesitou em escolher a ‘vinha e o vinho’, pois esta é uma área da maior importância na região, onde há muita engenharia nas suas várias especialidades.”
No início dos trabalhos, Raul Morais, investigador da UTAD responsável pela “Agenda Mobilizadora Vine and Wine Portugal”, pôs a tónica no planeamento: “Temos de saber o que vai acontecer à vinha daqui a 20 anos. Perceber onde se vão colocar videiras, quais as castas e a adoção do arrelvamento”. E também se haverá tratores elétricos a operar as quintas, pois “o que existe ainda são protótipos”.
Francisco Gonçalves, mentor do projeto FGwines e também o enólogo responsável pelos vinhos da marca Mont’alegre, concordou que “o papel da engenharia é fundamental na adega, mas na vinha vai permitir maior precisão”.
Construir o futuro com cuidado
“Evoluiu-se muito nas últimas décadas, mas temos de ter cuidado em como vamos construir o futuro”, declarou, por seu turno, Paulo Coutinho, enólogo da Quinta do Portal. Na sua opinião, há que fazer opções tendo em conta a “adaptação às alterações climáticas”. Porém, “antes de se avançar para a transferência das vinhas para maior altitude e começar a plantar castas novas, é preciso adaptar aquilo que já se conhece”.
Ainda segundo Paulo Coutinho, o setor da vinha e do vinho “tem de saber gerir os arrelvamentos”. Salientando que, “numa vinha, dois terços não são aproveitados”, o desafio é “pegar nesses dois terços e pô-los a capturar carbono”. Por outro lado, também é necessário “criar formas de reter água, garantindo mesmo que a própria vinha tenha “capacidade para fazer a infiltração”.
Para o reitor da UTAD, Emídio Gomes, “há hoje uma nova ciência da engenharia em torno da vinha, que está cada vez mais desenvolvida” e que, na sua opinião, vai acabar por conduzir “à utilização da inteligência artificial em toda a atividade”.
Olhando para o passado da Região Demarcada do Douro, Emídio Gomes vê “um dos processos mais árduos da engenharia”: a construção dos socalcos. Daí que não tenha dúvidas de que “a complexidade da engenharia tem estado na vinha e no vinho” ao longo de toda a sua existência e assim vai continuar.
Chegar à excelência
Disso não tem dúvidas Paulo Ruão, diretor de Enologia e membro do conselho de administração da Lavradores de Feitoria. Assume que os novos equipamento que têm surgido nas adegas “têm sido muito bem pensados, no sentido de se preservarem todas as componentes do vinho”, todavia, frisou que “sem uma boa viticultura é muito difícil chegar à excelência”.
Na Lavradores de Feitoria, “a engenharia agronómica é a base do trabalho”, embora, de acordo com Olga Martins, “outras áreas da engenharia sejam igualmente importantes, como a alimentar e a química”. Daí que, segundo, Bento Aires, presidente do Conselho Diretivo da OOERN, se tenha que “olhar para a engenharia de uma forma holística”, contribuindo assim para a criação de “um ecossistema que valorize as populações”.