Governo vai criar comissão para avaliar resposta ao apagão. Oposição critica falta de comunicação
Luís Montenegro defendeu ação do Governo no apagão. Pedro Nuno Santos criticou.
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O Governo vai criar uma comissão técnica independente que irá avaliar a capacidade de reação das infraestruturas e serviços, e a forma como o apagão foi gerido. O primeiro-ministro considera que o país deu uma boa resposta a uma situação “grave e inédita”. Uma das mudanças desejadas para enfrentar futuras eventuais crises é que as centrais do Baixo Sabor (no distrito de Bragança) e do Alqueva (no distrito de Évora) também tenham a função de “black start”.
Na segunda-feira, defendeu Luís Montenegro, ficou provado que as centrais da Tapada do Outeiro e de Castelo de Bode foram “eficazes” a reiniciar o sistema, mas “insuficientes do ponto de vista da rapidez”. Por isso, explicou, o Governo quer alargar a mais centrais, nomeadamente Baixo Sabor e Alqueva, a capacidade de arranque autónomo do sistema elétrico (“black start”) para tornar “mais célere” a capacidade de recuperação num futuro eventual apagão.
Em contagem decrescente para as legislativas de 18 de maio, o apagão ameaça tornar-se um dos principais temas da campanha. Na reunião de ontem entre partidos e Governo no Parlamento, nenhuma bancada se opôs à comissão técnica, mas várias criticaram a forma de comunicação do Executivo durante o dia (ler abaixo).
Melhor que Espanha
"Decidimos criar uma comissão técnica independente em Portugal. Que faça uma avaliação do Sistema de Proteção Civil, de comunicações e da área da saúde", anunciou Luís Montenegro, após o segundo conselho de ministros extraordinário nos últimos dois dias. A comissão, explicou, será composta por sete personalidades: um especialista em energia, outro em redes e sistemas de comunicações, um de proteção Civil, um de Saúde e três indicadas pela Assembleia da República.
Também será pedida uma auditoria urgente à Agência de Cooperação dos Reguladores de Energia da União Europeia que incida sobre os sistemas elétricos dos países afetados.
Ao início da tarde, já com a maioria dos serviços públicos, como as escolas, a funcionar, o primeiro-ministro defendeu que o restabelecimento acabou por ser mais rápido em Portugal do que em Espanha.
Pedro Nuno Santos acusou Executivo de se ter “apagado”
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, acusou o Governo de também se ter apagado na segunda-feira. O presidente da Assembleia da República convocou partidos e Executivo. A Oposição apontou falhas na gestão da comunicação ao país e aprovou o requerimento do PCP para um debate de urgência, hoje, na comissão permanente.
"O mais grave é que também tivemos um apagão no Governo central. Uma ausência de liderança, de orientação e apoio quando o país mais precisava”, defendeu Pedro Nuno Santos, criticando o “desaparecimento” das ministras da Administração Interna e do Ambiente.
Para o líder socialista, o Executivo permitiu que durante horas circulassem notícias falsas sobre o apagão e devia antes ter usado as rádios para a Proteção Civil divulgar informação a cada hora. Pedro Nuno Santos criticou ainda Luís Montenegro de ter ido segunda-feira à noite à maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, após meses com urgências de obstetrícia fechadas. “O Governo falha sempre à crise, nunca falha na propaganda", acusou.
Depois das eleições
A IL considera que a comissão “poderá ser eficaz” enquanto o Livre critica a intenção do Governo de só iniciar trabalhos após a tomada de posse do novo Parlamento. “Precisamos de perceber já o que aconteceu”, defendeu a líder parlamentar Isabel Mendes Lopes.
O BE defendeu que a comissão deve ser composta “por figuras de reconhecido mérito”. Já o Chega pediu que a investigação seja “conduzida por serviços independentes para se saber exatamente o que se passou”.