Villas-Boas e Conceição: "É a primeira pessoa com quem quero falar após tomar posse"
O líder da lista “Só há um Porto” voltou a ser cuidadoso ao abordar a questão relacionada com o treinador da equipa principal e admitiu preocupação que, em caso de derrota, a direção do F. C. Porto fique nas mãos de um vice-presidente de Pinto da Costa e de “interesses alheios”.
Corpo do artigo
Sérgio Conceição termina contrato com o F. C. Porto no final da época e um dia depois do atual presidente afirmar que está convencido que o técnico continuará caso seja reeleito, André Villas-Boas voltou a tentar manter esse assunto fora da campanha, mas ainda assim não escondeu que essa será uma prioridade após o ato eleitoral de 27 de abril.
“Não posso entrar no universo da escolha do treinador. Tal como o técnico disse que se manteria à parte do ato eleitoral, eu faço o mesmo em relação ao treinador. É a primeira pessoa com quem quero falar após tomar posse. É um treinador que termina contrato e já alertei para este cenário há um ano, porque me parecia estranho um treinador tricampeão nacional não tivesse renovado contrato após a eliminação com o Inter (em 2022/23). Se há momento em que se devia dar apoio ao treinador é nessa altura, ou quando se perdeu o campeonato da forma como se perdeu”, defendeu Villas-Boas, recusando-se, por isso, a traçar um perfil ideal para o futuro técnico.
“Vou-me manter longe dessa conversa e a melhor forma de o fazer é não falar em perfis. Não podemos estar a contratar jogadores atacantes para depois termos um treinador mais defensivo, mais italiano por assim dizer. Devemos manter o perfil típico do futebol português, com posse, excelência técnica e criatividade”, antes de recordar o dinheiro desperdiçado em futebolistas que poucas hipóteses tiveram de jogar no F. C. Porto.
“Podemos falhar quando contratamos jogadores, mas tem de haver responsabilidade perante os sócios. Tem de ser um processo rigoroso e a direção do scouting é importante. Atualmente parece não haver rigor nisso e tem levado a um elevado número de erros, com muito dispêndio. Contratamos um jogador ao Gil Vicente, por oito milhões [Fran Navarro], para o dispensarmos em janeiro”, recordou, antes de lançar uma denúncia em relação a Otávio, central contratado ao Famalicão em janeiro.
“O nosso jogador Otávio terá sido pressionado a assinar por dois agentes antes de vir para o clube. Porquê? São sempre esses agentes que estão no universo do F. C. Porto, é cada vez mais recorrente, há um sentimento de privilégio. Teremos de trabalhar com todos os agentes, mas isso não pode causar mais custos. Estas perguntas estão cada vez mais presentes. Só encaixámos 10, 11% de cada venda, contra 30% ou 40% no Benfica e Sporting”, recordou.
Depois de ser solicitado por um adepto para esclarecer uma declaração recente em que disse que em 2028 já não seria uma solução para o clube, Villas-Boas falou em “interesses alheios”, caso Pinto da Costa seja obrigado a abdicar a meio de um eventual 16.º mandato.
“Há dois cenários aqui. O sócio, adepto e simpatizante Villas-Boas não vai desaparecer, os meus filhos são doentes pelo clube, eu também. O que disse em entrevista foi que se não ganharmos as eleições o F. C. Porto pode mudar radicalmente entre 2024 e 2028. O presidente, por muito que queira, não é eterno e tenho medo que não possa continuar a comandar o F. C. Porto com o brilhantismo de antigamente”, referiu, antes de especificar o que teme que possa acontecer.
“O que me preocupa é que a Direção fique nas mãos de um vice-presidente e isso não me parece justo. Deve ir a escrutínio e a votos dos sócios. Tudo isto cheira a mais do mesmo, a interesses alheios. Além disso não sei se as pessoas que estão comigo agora em 2024 estarão disponíveis em 2028, como Pereira da Costa. Tenho medo que o clube fique refém de interesses alheios”, concluiu.
"Acabar com a corrupção"
André Villas-Boas abordou vários outros assuntos em Arouca, a começar pelos casos que têm manchado o futebol nos últimos anos. "A corrupção no futebol português tem de acabar imediatamente e o F. C. Porto tem de levantar a voz contra isso. Com tantos casos nos últimos anos, dentro das instituições, houve alguma indiferença por parte do F. C. Porto, deixou andar", acusou, antes de admitir que contratou uma empresa de sondagens e que os resultados da mesma serão apresentados em breve.
Sobre o futuro próximo da equipa, atualmente em terceiro lugar no campeonato, o candidato deixou um pedido a todos os adeptos, consciente da importância que o apuramento para a próxima Liga dos Campeões pode ter.
"No futebol, não podemos falhar a presença na Liga dos Campeões. Por isso é que temos todos de ir para casa e apoiar a equipa até ao final da época, para podermos pressionar o Benfica caso não dê para ser campeão nacional. Se não entrarmos na próxima Champions, teremos de repensar orçamentos e preparar equipas competitivas de outra forma", defendeu.