Diretor do departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da UTAD, Domingos Lopes, avisa que não chega planificar. "É urgente assumir que o território não são fogos", frisa o engenheiro florestal.
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Face ao que assistimos hoje, qual a importância dos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, cuja vigência foi prolongada até ao final deste ano?
O facto de obrigar a planificar antecipadamente é já um passo grande, porque a proximidade ao território permite perceber com mais eficiência os pontos com mais dificuldades e os recursos que têm. A análise municipal é importante, mas mais importante que isso é que tenha consequências no território, em termos de gestão, prevenção. Posso ter um plano fantástico, mas se não trouxer maior resiliência ao território…
Falta esse lado mais prático, então.
É preciso agir sobre o território. Porque dias como os de hoje vão ser recorrentes. É preciso passar das ideias e das políticas à prática e agir sobre o território, senão vai continuar a acontecer. Muitos destes territórios são rurais, com pouca população, envelhecida, e o problema permanece. É necessária uma reflexão sobre as metodologias que funcionam nestes contextos.
De que forma?
Após os incêndios de 2017 [Pedrógão] surgiu o Plano Nacional de Fogo Controlado. Há muitos ambientalistas que não concordam, mas são ferramentas como esta que permitem levar à prática o que está planificado nos planos municipais. E já se vai começando a sentir.
A diminuição das espécies autóctones a favor do eucalipto agrava o risco.
O Programa de Reordenamento e Gestão do Território (PRGP) e o Programa de Transformação da Paisagem apontam para a necessidade de compartimentaçã. Não é impossível ter áreas com maior pendor produtivo, mas que se mantenha a diversidade. A compartimentação do espaço ajuda a aumentar a segurança do espaço. Pode ter uma zona produtiva mas, em simultâneo, uma zona mais segura. É urgente assumir que o território não são fogos.