Rede abastecia traficantes da região com droga encomendada e de produção própria. Usavam estafetas para fazer entregas e comunicavam através do Instagram e de aplicações encriptadas.
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O Ministério Público (MP) acusou este mês 18 arguidos de tráfico de droga. Segundo o MP, a rede, que operava no Grande Porto, recebia encomendas por telefone e através das redes sociais para efetuar as entregas via estafetas. Um dos arguidos, que geria uma estufa de grandes dimensões no Porto, é Hugo Rocha, condenado por homicídio na Noite Branca. O ex-segurança de 46 anos tinha em casa uma caçadeira ilegal.
A acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal de Valongo sustenta que, pelo menos desde 2022, a rede dedicou-se à venda de canábis no Grande Porto. Os arguidos compravam droga a terceiros para vender, mas também tinham várias estufas de produção própria.
Uma delas, localizada num armazém na zona da Areosa, seria gerida por Hugo Rocha. Esta autêntica “fábrica de droga” albergava mais de uma centena de vasos e várias dezenas de pés de canábis em diferentes estados de maturação e diversos equipamentos usados no cultivo e preparação de estupefacientes.
Mais cinco estufas
A investigação, a cargo do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Santo Tirso, conseguiu localizar outras cinco plantações ao serviço da rede e apreender mais de 300 plantas de canábis, 15 quilos de sumidades e três quilos de haxixe.
Os arguidos contactavam entre si através das redes sociais, pelo chat do Instagram, ou aplicações de mensagens encriptadas como o “Signal” ou o “Telegram”.
Os quatro cabecilhas foram apanhados a efetuar encomendas “à la carte” a partir de um menu com vários tipos de canábis como o “indoor” e o “premium”. Uma das transações monitorizadas pela GNR implicou a compra de dois quilos de canábis tipo “Biscotti” e algumas amostras das estirpes Gelato, Pistachio e La Mota. No total, pagaram 5497,50 euros por 2105 gramas de canábis. Os cabecilhas gastavam entre 2,5 e os 5 euros por grama. Depois, revendiam aos traficantes por valores entre os cinco e os dez euros.
A vigilância da GNR documentou dezenas de transações e permitiu apurar que as entregas faziam-se em vários locais: na zona da rotunda da Boavista, no shopping Brasília, na Ribeira, junto do Mercado do Bolhão, mas também em bares da “movida” ou cafés no Porto e em Valongo. Também recorriam a estafetas e faziam pagamentos através da aplicação Wise. Uma operação da GNR realizada em fevereiro deste ano desmantelou a rede que veio a ser acusada pelo MP no passado dia 3 de agosto.
Autor da morte que fez explodir violência na noite
Em 2009, Hugo Rocha foi condenado a 12 anos e meio de prisão pelo homicídio do segurança Nuno Gaiato (na foto). A morte ocorrida a 12 de julho de 2007 desencadeou uma sucessão de assassinatos e episódios de elevada violência que abalaram a noite do Porto: o caso Noite Branca. Gaiato teria provocado desacatos na discoteca Number One. Dias depois, “Berto Maluco”, segurança do espaço, foi, com Hugo e dois amigos, vingar-se ao bar El Sonero, onde Gaiato trabalhava. Este viu-os a chegar e fugiu. Berto e Hugo foram atrás dele. Segundo o tribunal, Hugo matou-o à queima-roupa na cozinha. Nos meses seguintes ocorreriam os assassinatos de Aurélio Palha, Ilídio Correia e do próprio Berto Maluco. Em dezembro de 2007, uma operação da PJ efetuou várias detenções e pôs fim à escalada de violência.
Arguidos acusados de tráfico de estupefacientes. Têm entre 29 e 56 anos. Hugo Rocha e outro arguido estão também acusados de posse de arma proibida.
Pormenores
15 mil euros
As buscas realizadas pela GNR em fevereiro apreenderam 15 mil euros, 50 telemóveis, 18 quilos de canábis para venda e mais de 300 plantas.
Prisão preventiva
Após o primeiro interrogatório judicial, Hugo Rocha e dois outros arguidos ficaram em prisão preventiva, condição em que ainda se encontram e devem continuar, defende o Ministério Público.