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Confesso. Por minha culpa, minha tão grande culpa, pequei. Algumas horas depois de a eletricidade perder o tino, na segunda-feira, fui à mercearia. Entrei, segui o circuito da fila que já dava um nó e chegava à porta, esperei, paciente, a ouvir as ideias geniais das pessoas que, como eu, pecavam, munida dos trocos perdidos pela casa, algumas moedas pretas das aceitáveis, atiradas com desprezo para um mealheiro paquistanês, o jeito que, afinal, me deu. Passei pelas conservas, ciente de que não as tenho em casa. Passei pelas bolachas, pelo queijo. Cheguei à caixa de mãos vazias. Só queria pilhas. Porque a minha fome era de notícias sérias e essas só as ouvia no carro estacionado no desgosto do depósito vazio. Feliz com as últimas quatro da prateleira, sentei-me ao sol, tirei o velho rádio do tote bag e fui-me abaixo. Estava avariado. Lição do apagão: liga o teu transístor amiúde. Pode um dia ser o teu melhor amigo.