Ataque que terá destruído três instalações nucleares iranianas “cruza linha vermelha”, alertou Teerão, que pondera retaliar contra bases militares norte-americanas. Benjamin Netanyahu celebrou “decisão ousada” de Donald Trump.
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Donald Trump não esperou pelo prazo de duas semanas que tinha anunciado e atacou, na madrugada deste domingo, o Irão, numa intervenção militar que, segundo Washington, destruiu três instalações nucleares. Apesar de o presidente dos Estados Unidos desejar que a agressão a Teerão resulte na retoma das negociações sobre o programa nuclear, o Governo iraniano acusou os norte-americanos de cruzarem uma “linha vermelha”. Por ora, a incerteza predomina no Médio Oriente enquanto se espera uma resposta da nação liderada pelo ayatollah Ali Khamenei.
Ali Akbar Velayati, conselheiro do líder supremo iraniano, afirmou que “já não há lugar para a América nem para as suas bases nesta região e no Mundo islâmico”. Citado pela agência oficial IRNA, Velayati argumentou que são “alvos legítimos” quaisquer bases “usadas pelos americanos para atacar o Irão”.
Washington “cruzou uma linha vermelha muito grande”, frisou o chefe da diplomacia iraniana. “Os EUA demonstraram não ter qualquer respeito pelo Direito Internacional. Só compreendem a linguagem da ameaça e da força”, disse Abbas Araghchi. “De acordo com a Carta da ONU e as suas disposições que permitem uma resposta legítima em autodefesa, o Irão reserva todas as opções para defender a sua soberania, interesses e povo”, acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Teerão, que se reunirá na segunda-feira com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo.
Trump salientou que o “objetivo era a destruição da capacidade de enriquecimento nuclear do Irão e uma pausa na ameaça nuclear representada pelo Estado número um do Mundo que patrocina o terrorismo”. O presidente dos EUA, que prometeu uma “tragédia” caso Teerão não aceite negociar, agradeceu ainda ao primeiro-ministro “Bibi” Netanyahu. “Trabalhámos como uma equipa como talvez nenhuma outra tenha trabalhado antes, e fizemos um longo caminho para eliminar esta terrível ameaça a Israel”, completou.
“Devastámos o programa nuclear iraniano”, destacou o chefe do Pentágono, indicando que não visou “tropas iranianas ou o povo iraniano”. Pete Hegseth defendeu que Trump “busca a paz” e que “esta missão não era, nem tem sido, sobre uma mudança de regime”.
O primeiro-ministro de Israel afirmou que a operação americana deixou Telavive mais perto dos objetivos em relação ao Irão. “A sua decisão ousada de atacar as instalações nucleares do Irão com o incrível e justo poder dos EUA vai mudar a história”, declarou Benjamin Netanyahu num vídeo direcionado a Trump.
A Agência Internacional de Energia Atómica foi informada pelas autoridades do Irão que o ataque, que não provocou mortes, não gerou um aumento dos níveis de radiação nas imediações das três instalações. Uma fonte sénior de Teerão assegurou à agência Reuters que a maioria do urânio enriquecido em Fordow, principal alvo do bombardeamento, fora transferida para um local desconhecido.
Futuro do programa nuclear
Teerão, que sempre negou ter ambições de fabricar armas atómicas, poderá mudar de posição após este caso. “Mesmo que os ataques destruíssem todas as instalações nucleares do Irão – um grande ‘se’ – o Irão estará agora mais motivado do que nunca para reconstruir as suas capacidades e procurar não só o enriquecimento de urânio, mas também o armamento propriamente dito”, pontuou Rosemary Kelanic, diretora do programa de Médio Oriente no think tank Defense Priorities, ouvida pelo diário americano “The New York Times”. Por enquanto, a arma a que os iranianos podem recorrer é o petróleo, com grandes aumentos de preço esperados em breve.