Cardeais entre duas linhas divergentes que refletem papéis opostos da Igreja.
Corpo do artigo
Os nomes mais apontados por especialistas (e até por casas de apostas) para futuro Papa fazem antever a completa imprevisibilidade da escolha. Apesar de a grande maioria (80%) dos 133 cardeais eleitores ter sido nomeada por Francisco, sobressaem as tendências opostas entre conservadores radicais e progressistas.
Entre os favoritos, destaca-se o português Tolentino de Mendonça. O madeirense de 59 anos tem sido lembrado pelo proeminente papel na cúpula do Vaticano, nomeadamente em artigos recentes publicados nos jornais italianos “La Stampa” e “La Repubblica”, além de outras publicações que não esqueceram o seu desempenho como prefeito do dicastério para a Cultura e Educação. É tido como parte da ala conciliatória dentro da Igreja, próxima, por exemplo, do italiano Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e adepto da proximidade, do diálogo e de uma Igreja aberta a outras religiões e sensibilidades. Chamam-lhe “padre de rua”, dada a sua relação próxima com as pessoas.
Outro dos chamados progressistas é o filipino Luis Antonio Tagle, que apoia a abertura da Igreja Católica a divorciados, a mães solteiras e a quem tem orientação sexual minoritária. O combate à pobreza é outra das suas lutas. A ser eleito, será o primeiro Sumo Pontífice originário do continente asiático.
Igualmente na linha da frente está o francês Jean-Marc Aveline, que defende a abertura da instituição católica e a aproximação a causas sociais, embora seja relutante em relação à aproximação à comunidade homossexual. Próximo do Papa Francisco, com quem mantinha diálogos frequentes, foi apontado por um estudo do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa como o favorito a suceder-lhe.
Mais conservador é Peter Turkson. O ganês nunca escondeu a oposição ao direito ao aborto e à eutanásia. No entanto, é favorável ao fim do celibato dos padres como forma de combater a escassez de pastores da Igreja.
Numa linha intermédia de tendência está Péter Erdo, considerado uma das vozes mais ativas na defesa do diálogo inter-religoso. Ordenado padre em 1975 em plena era comunista na Hungria, os críticos lamentam as suas alegadas ligações ao partido de Viktor Órban, de extrema-direita.
Recorde os quatro portugueses que podem ser Papa
Perguntas e respostas
Quantos portugueses participam no conclave?
São quatro os cardeais de Portugal com direito a voto: D. Tolentino de Mendonça, D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. Américo Aguiar. É a sexta maior representação no conclave em termos de nacionalidade.
Quantos cardeais marcam presença?
O total de cardeais eleitores é de 135, embora apenas 133 figurem na reunião secreta. O espanhol António Cañizares Llovera e o bósnio Vinko Puljic estarão ausentes por doença.
Qual a média de idades dos participantes?
Situa-se nos 70,4 anos, com o cardeal ucraniano Mykola Bychok a ser o mais novo (45). Há 15 cardeais com 79 anos, a idade máxima permitida pelo Vaticano para fazer parte do conclave.
Quem vai presidir?
A responsabilidade cabe ao italiano Pietro Parolin, apontado como um dos favoritos à eleição como novo Papa. O conclave, palavra que deriva do latim “cum” (com) e “clave” (chave), tem início previsto para as 16.30 horas locais no Vaticano, menos uma hora em Portugal Continental.
Cinco curiosidades
A Isolados
Durante os dias do conclave, os cardeais eleitores não podem abandonar as duas instalações do Vaticano devidamente preparadas para os acolher, na Casa de Santa Marta, a 20 minutos a pé da Capela Sistina, onde decorrem as votações.
Processo
Segundo a Constituição Apostólica, cada um dos cardeais escreve a sua preferência num pequeno boletim que depois é depositado dobrado numa taça coberta por um prato. Será necessária uma maioria mínima de dois terços para ser encontrado o novo Papa.
Castigo
Se for descoberto que algum dos participantes transpirou qualquer informação para o exterior durante o conclave, a punição prevista é a pena de excomunhão. As regras da Santa Sé são claras e impedem contactos com alguém estranho ao Colégio Cardinalício.
Alimentação
Se a reunião se prolongar para lá de três dias, os participantes passam a poder fazer apenas uma refeição diária. Se passar dos cinco dias, daí em diante não poderão ingerir mais do que uma sande.
Vestuário
Durante o conclave, os cardeais vestem fatos vermelhos que simbolizam o sangue de Cristo.