Programa cultural infantojuvenil está em destaque no fim de semana. Livros de teatro têm sido dos mais procurados.
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“Não há caminhos fáceis para quem é responsável”: a frase de Eugénio de Andrade, o homenageado desta Feira do Livro do Porto, que decorre até dia 8 de setembro nos jardins do palácio de Cristal, assenta perfeitamente em Verónica, que traz pendurado pelo braço o seu Sebastião.
“Livros para a escola?! Eu nem sequer quero ir para a escola!”, berra Sebastião, fincando os pés na gravilha. A avó tenta “incutir hábitos de leitura” neste pequeno que vai estrear-se na escola primária e mostra-lhe o seu nome – que consegue identificar – num livro com o rei.
Não sabemos se tenta seduzi-lo com o mistério de que “ele desapareceu e regressará num dia de nevoeiro, como o de hoje”, ou se, na verdade, é uma ameaça velada perante tamanha desfaçatez do neto.
Se Sebastião não tem interesse pelas letras, o mesmo não se pode dizer de Vasco, que veio com a tia Anabela, professora, e as primas, e já comprou quatro livros que guarda cuidadosamente bem embrulhados, como um tesouro, na mochila. “Na terça feira já tínhamos tentado vir, mas era tanta gente que não conseguimos estacionar e ele estava tristíssimo. O meu sobrinho adora ler”, conta a tia, orgulhosa.
Primeira vez do Teatro S. João
O número de visitantes tem sido bastante impressionante: Jorge Pires, da Ror de Livros, de Aveiro, diz que esta sexta-feira superou “as expectativas de vendas que tinham para a Feira do livro do Porto. Sobretudo porque no fim de semana o certame recebeu 50 mil pessoas”.
Também o Teatro Nacional S. João, do Porto tem, pela primeira vez, uma banca na Feira. Aqui, como explica Guilherme Oldra, o campeão de vendas é destacado: “Platonov”, de Tchékov. Mas, “O cerejal” também tem sido muito procurado. O segundo é “As bruxas de Salém”, de Arthur Miller, elenca o responsável.
Heranças emocionais e espanhóis
O teatro também parece ser o móbil de êxito da Tinta da China, stand onde “o mais vendido é “Catarina ou a beleza de matar fascistas”, do diretor do Festival de Teatro de Avignon, Tiago Rodrigues. Assim como Dulce Maria Cardoso, escritora que é, ali, das mais procuradas.
Suzana Menezes, diretora do LU.CA - Teatro Luís de Camões, único em Portugal dedicado exclusivamente à infância, esteve na Feira do Livro do Porto para apresentar o livro “Falar piano e tocar francês”, do maestro Martim Sousa Tavares, neto de Sophia de Mello Breyner.
Martim explicou, perante uma plateia absolutamente repleta, na Biblioteca Almeida Garrett, que “o Porto é a minha cidade do coração”, porque “um pouco de mim nasceu no Porto, a família do lado do meu pai” e porque “foi no Porto que conheci a minha mulher”.
Quanto ao seu livro descreveu-o como um produto “entre S. Francisco de Assis e David Bruno, com todos os cinzentos que existem pelo meio”. E revelou-se: “Passado com um jornalista que disse que o livro era um conjunto de crónicas, tive vontade de lhe perguntar se sabia o que eram capítulos”.
Um dos stands mais curiosos da Feira do Livro é o da Gallo de Oro, editora basca que “participa pelo segundo ano”, com livros em castelhano e em basco, e algumas edições bilingues português/castelhano. A grande atração é “La niña del mar”, da avó de Martim Sousa Tavares, enfeitada com Blas Oteros e Garcia Lorcas à sua volta.
Destaques da programação
“Há Mar!”, da Cia We TumTum: 11.30 horas
Espetáculo para bebés dos 18 aos 36 meses, com entrada gratuita. Embalados nas ondas, dois habitantes das mesmas águas, reconhecem as suas semelhanças.
“Ser diferente é ser como toda a gente”, de Elsa Serra: 11.30 horas
Contos errantes para maiores de três anos. Sessão de histórias, para aprimorar o gosto pela leitura e pelo universo mágico das histórias.
Oficina “Como nascem os livros?”, de Ana Pessoa e Mariana Malhão: 15 horas
Para crianças maiores de 6 anos. Álbum ilustrado que nos faz pensar sobre as alegrias e as responsabilidades de ser livre.
“Circoreto”, da Nuvem Voadora: 17 horas
Dia de festa, inauguração do Circoreto. A peça teatral mete um anjo, um touro e uma banda.