Costuma dizer-se que as mulheres, em comparação com os homens, não se unem muito entre si. E realmente comprova-se. Há uns dias, foi notícia um grupo de Whatsapp de partilha de fotos e vídeos íntimos de mulheres, que reúne 70 mil homens portugueses. Como é que ainda oiço tipos a dizer que é cada vez mais difícil arranjar 10 amigos para uma futebolada.
70 mil homens. São mais de seis Altices Arenas de machos que veem e partilham imagens de ex-mulheres, ex-namoradas e desconhecidas em situações íntimas, bem como informações pessoais das mesmas. Geralmente, costumam ser os mesmos que classificam como porcas as mulheres que escolhem meter nas suas redes pessoais fotos em biquíni. Na verdade, depois de saber isto, é capaz de ser frustração pela foto ter sido publicada pela própria e não uma fotografia que o Joni_SLB83 arranjou para partilhar com os restantes camaradas.
Nós estamos fartas de ouvir conselhos como: "Vê lá o que mandas ao João. Se quiseres enviar, manda uma em que não se veja a cara". Eu aconselho as mulheres que queiram mandar fotos ousadas a usar a técnica daqueles pais que colocam emojis na cara dos miúdos e a usarem especialmente o emoji de vómito, já que nunca se sabe onde é que aquilo vai parar. Como raparigas, a nossa educação para a violência passa por não nos pormos "a jeito", e a verdade é que sinto que há uma lacuna no que diz respeito aos rapazes. Para além de lhes explicarem o que é o consentimento, podiam acrescentar um "se alguma vez partilhares uma foto íntima, ponho no meu Facebook uma foto tua de quando achavas que ias ser para sempre o fã n.o 1 dos Tokyo Hotel". Acho que só com estas ameaças duras é que isto vai lá.
Eu cruzei a adolescência na altura em que a rede social mais popular era o Hi5 e o site mais partilhado era o Hi5 porcas. A tormenta que era sempre que havia uma nova publicação e o alívio que se sentia quando percebemos que não éramos nós nem alguém de quem gostássemos. Por esta altura, quando andava no liceu, uma amiga minha viu uma fotografia que enviou ao namorado na altura a correr a escola inteira. O impacto na vida dela foi tão grande, que só pela força de nunca ter faltado a uma aula lhe devia ter dado a melhor nota da turma. Quando o namorado foi confrontado, assumiu-se como inocente e desculpou-se com um "eu meti o computador para arranjar. Deve ter sido alguém da loja". Curiosamente, uns anos depois, um vídeo íntimo de outra rapariga da região de Lisboa começou a circular na internet e a desculpa foi a mesma: "Meti o computador para arranjar". Pelos vistos, na primeira década dos anos 2000, houve um movimento clandestino de rebarbados em larga escala a operar em caves de lojas que se dedicavam a vender CD de Norton Antivírus e Pentiuns IV.
A verdade é que uma vez na net, para sempre na net. É uma humilhação profunda, uma violação permanente da mulher. Em Portugal, só no ano passado, foi aprovado um projeto de lei que prevê uma pena de prisão até cinco anos para partilha de conteúdos íntimos sem autorização. Por isso, a questão é: onde é que se vai arranjar uma pocilga com capacidade para 70 mil indivíduos?

