Quem pode reconstruir o Médio Oriente?
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Depois da guerra dos 12 dias entre Israel e o Irão, precisamos de saber quem poderá reconstruir o Médio Oriente. Sendo parte ativa nos ataques bélicos, os EUA poderão ter um papel importante na edificação da paz. Tal implica que se desenvolva uma frente diplomática que exige visão e paciência. Algo que o presidente norte-americano nem sempre demonstra ter e que continuam a ser bens escassos nos territórios devastados.
Como era previsível, Donald Trump cedo proclamou vitória neste conflito, assegurando ter aniquilado o programa nuclear do Irão. A inteligência americana não foi tão longe e vários especialistas internacionais têm aconselhado cautela a esse nível. As armas podem destruir estruturas, mas não eliminam o conhecimento. O Irão mantém, ainda hoje, uma capacidade científica para produzir armamento nuclear.
Deste modo, o caminho diplomático seria aquele mais prudente para calcorrear, procurando-se, através dessa opção estratégica, um acordo nuclear, mais rigoroso duradouro. Vários média internacionais vão alertando para a urgência de se tentar selar um compromisso que inclua inspeções minuciosas e limites claros ao enriquecimento de urânio. Em contrapartida, levantar-se-iam sanções europeias e norte-americanas. Não é fácil fazer isso, como bem explica esta semana a revista “The Economist”. Porque ninguém confia em ninguém. Como exemplo preocupante, permanece por apurar o destino de cerca de 400 quilogramas de urânio altamente enriquecido.
Mas o problema não se circunscreve ao Irão. Israel precisa também de progredir nas cedências. Reconhecer o princípio de dois estados e promover um cessar-fogo efetivo em Gaza seriam passos decisivos rumo à estabilidade. Tendo grande influência sobre o rumo israelita, Trump poderia ser um catalisador importante dessa mudança. Para isso, seriam necessárias intervenções contínuas e equilibradas. É aí que reside a maior dúvida: o presidente dos EUA será capaz de manter o foco e a consistência que a diplomacia exige? Tendo em conta a realidade atual, não tem muitas alternativas. Se falhar, o Irão pode retomar o programa nuclear, Israel pode repetir os ataques e o ciclo entra numa espiral suicidária. Guerra, atrasos, retaliação... A cada ataque, os aliados afastam-se e os custos tornam-se insustentáveis.
Não é, pois, difícil perceber que a abordagem militar se torna cada vez mais ineficaz. No entanto, também ninguém parece capaz de promover a paz. E isso não destrói apenas o Médio Oriente. Destruir-nos-á a todos. Nenhum orçamento de Defesa, por maior que seja e por mais que se ajoelhe às exigências da NATO, nos poderá proteger de um Mundo que escolhe caminhar para o abismo.