Universidades e empresas trabalham juntas para desenvolver produtos, processos e serviços que ajudem na sustentabilidade do setor.
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Um robô controlado por telemóvel que aduba as videiras e corta a erva, um drone gigante para sulfatar as vinhas e uma estação de monitorização das condições do terreno e das plantas. São exemplos de inovação para ajudar na sustentabilidade e competitividade do setor vitivinícola português.
Estas e outras tecnologias emergentes foram demonstradas em contexto real, ontem, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real. Foi lá que decorreu o segundo Seminário Vine & Wine Portugal, que reuniu especialistas, produtores e investigadores para refletirem sobre os desafios tecnológicos, o investimento produtivo e a internacionalização do setor do vinho.
O evento serviu para fazer um balanço intercalar do que se está a fazer no desenvolvimento de produtos, processos e serviços, mediante parcerias entre instituições de ensino superior e empresas.
Raul Morais, coordenador da execução do projeto na UTAD, explica que estão a ser desenvolvidas “soluções robóticas para a vinha, de desinfeção de adegas utilizando radiação UV-C para minimizar o gasto de água, de produtos para promover a resiliência da videira face às alterações climáticas, de recolha e processamento de dados e uma plataforma digital para oferecer um conjunto de serviços, muitos deles criados na UTAD”.
O também docente e investigador Raul Morais diz que, atualmente, em algumas dos produtos e soluções, “ainda não é possível chegar a uma loja, comprar e ligar”. Ora, “como não se vai do zero ao infinito num só degrau, está a fazer-se um caminho sustentável”. O que já é uma realidade é ter uma viticultura mais mecanizada, do ponto de vista das novas tecnologias, para promover a precisão.
Câmara térmica
Um dos produtos inovadores apresentados, ontem, pela UAVision, empresa de aeronaves não tripuladas sediada em Torres Vedras, é um drone gigante. Sónia Filipe, responsável da empresa, explica que tem mais de “três metros de largura por outro tanto de comprimento, pesa 100 quilos e pode transportar 100 a 200 litros de um fitofármaco para tratamento das videiras, com autonomia de uma hora”. Além disso, “vai estar munido com uma câmara térmica para analisar o estado da vinha”.
O drone foi apresentado em cima de um carro de seis rodados, que lhe pode servir de base, para “carregar baterias e levar mais produtos de tratamento”. No processo de desenvolvimento, o aparelho poderá ainda ser equipado com “um braço que vai descer para sulfatar lateralmente”.
O robô Modular-E está a ser desenvolvido pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), do Porto. Filipe Santos, do laboratório Tribe Lab deste instituto, refere que o protótipo, que pode ser operado remotamente através de um telemóvel, está já num “estado avançado” e “muito perto de chegar ao mercado”. A máquina “fertiliza videira a videira, corta a erva e é capaz de transportar um pulverizador”. Filipe Santos nota que estão a ser estudadas “outras ferramentas para a poda e vindima seletiva”.
Digitalização a chegar
Mário Rui Santos, da empresa Wavecom, com sede em Aveiro, realça que a “digitalização está a chegar à agricultura”. A estação que ontem apresentou é uma “fonte de dados a preço racional” para os agricultores. “Permite obter dados sobre humidade a diferentes níveis de profundidade no solo, detetar a temperatura do ar e a pluviosidade” e, através deles, “saber se há necessidade de rega, um evento de míldio ou oídio que vai acontecer num futuro próximo ou o surgimento de uma praga de traça da uva”. O objetivo é permitir que os agricultores possam tomar “boas decisões para garantirem mais produtividade e melhor qualidade”.