Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) explica que saem da Arrábida não por excesso de população ou fome, mas porque os novos são exploradores. Câmara pediu ajuda para os capturar
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Ao longo das últimas semanas têm sido vistos e filmados javalis a percorrer as ruas da cidade de Setúbal ao final do dia e durante a noite, em jardins públicos onde cavam buracos de grandes dimensões à procura de tubérculos, ou junto de caixotes de lixo.
O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, que já foi interpelado pela Câmara, para os capturar, diz não ter competência para agir em centros urbanos, mas considera que em causa não está um crescimento descontrolado desta espécie que habita na Serra da Arrábida, e que se pode tornar agressiva se se sentir ameaçada, mas sim um sentido aventureiro e de exploração pelos javalis mais jovens que se deixam ser avistados, o que não acontece com os animais mais velhos.
“O aumento de avistamentos de javalis em áreas urbanas, nesta altura do ano, é expectável e não decorre, necessariamente, de um crescimento descontrolado da população ou da escassez de água e alimento nas zonas habituais de presença da espécie, como é a Serra da Arrábida. Esse aumento está, muitas vezes, associado ao período pós-nascimento, fase em que os animais exploram novos territórios, tornando-se mais visíveis para as populações humanas”, afirma fonte oficial do ICNF ao JN.
O javali é um animal selvagem e há vários cuidados a ter perante o avistamento que já se torna comum nas praias da Arrábida e, este verão, no centro da cidade, onde há parques e zonas ajardinadas já com bastantes danos nos relvados devido aos buracos provocados pelos animais. O principal cuidado que o ICNF aponta é o de não se aproximar ou alimentar, visto que se o animal se sentir ameaçado, pode atacar com violência.
Perante os avistamentos recentes, a Câmara Municipal de Setúbal interpelou as autoridades, SEPNA da GNR e ICNF, para capturar os animais, mas nem um, nem outro agiram, apurou o JN, alegando que não têm competências para atuar na cidade.
Os javalis são provenientes da Serra da Arrábida, onde o ICNF, tem realizado as chamadas ações de correção de densidade populacional, ações de caça, para evitar que haja um aumento descontrolado. Segundo o ICNF, “no Parque Natural da Arrábida e áreas limítrofes, são abatidos anualmente entre 400 a 600 javalis, mantendo-se a população numerosa, mas estável. Desde o início deste ano, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas autorizou 53 ações de correção de densidade”. Estas autorizações dão-se em quintas e herdades privadas onde o javali entra e destrói plantações ou em zonas protegidas.
Redução de 30% em 10 anos
Espera-se que haja um abate de 20 a 30% de javalis em território nacional ao longo dos próximos 10 anos para manter o equilíbrio dos ecossistemas. “O Plano Estratégico e de Ação do Javali em Portugal, elaborado pelo Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, recomenda, num horizonte de cinco a 10 anos, o reforço dos esforços para aumentar a taxa de extração da espécie em 20 a 30%, tendo em conta os riscos para a segurança de pessoas e bens, as implicações em matéria de saúde pública e os impactos negativos sobre ‘habitats’, espécies e o equilíbrio dos ecossistemas”, respondeu ao JN o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.