Mergulhar de cabeça no mundo da compra e arrendamento de casas é tão fascinante quão assustador. Fascinante porque encontramos no universo do imobiliário um retrato sociológico do país litoralizado que somos, cada vez mais inclinado na direção de dois grandes núcleos urbanos; assustador porque o desespero já fez vulgarizar os preços absolutamente indecorosos que vemos a palpitar nos sites da especialidade.
Acontece sempre que a oferta é escassa: os valores trepam sem freio e o efeito de contágio propaga-se do centro para as extremidades, formando anéis cada vez mais largos que fazem estender os valores dos metros quadrados urbanos ao mundo rural. Tugúrios mal iluminados na periferia do Porto e de Lisboa a mais de mil euros por mês não são difíceis de encontrar, porque a necessidade se aguçou de tal forma que não há pudor por parte de quem arrenda. Os oportunistas chafurdam na baba da desfaçatez.
A questão da habitação é o tema mais desafiante e complexo com que nos debatemos hoje, porque a sua transversalidade geracional torna quase todos vítimas indiretas dos amuos do mercado. O direito constitucional a uma habitação, sendo uma premissa básica da vida em sociedade, transformou-se numa excentricidade. Ora, por mais que nos acenem com medidas revolucionárias e estratégias retorcidas, só combatemos este movimento esmagador com mais casas no mercado. Públicas e privadas. Há uns anos, os autarcas que forravam os seus mandatos com cimento, inaugurando fileiras de habitação social, eram vistos como provincianos e populistas. Hoje, podemos agradecer-lhes o facto de a oferta não ser ainda mais miserável. Aliás, se não fossem as câmaras, a amostra pública de habitação seria uma gota ainda mais esquálida neste oceano de incertezas.
A bolha vai rebentar, não haja dúvidas. Quem puder que fuja. Quem conseguir uma casa a bom preço que se abrigue.

