Cardeais portugueses dizem que eleição do novo Papa foi feita com "tranquilidade"
A escolha de Leão XIV como novo Papa no Conclave foi “tranquila” e já era esperada por três dos quatro cardeais eleitores portugueses que estiveram na reunião que escolheu o sucessor de Francisco.
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Numa conferência de imprensa dos cardeais portugueses que estiveram alojados no Colégio Português em Roma, por ocasião do Conclave, António Marto, Manuel Clemente e Américo Aguiar elogiaram o perfil de Leão XIV e admitiram que os eleitores já tinham uma ideia clara de quem queriam eleger.
Antes do Conclave, houve “uma série de encontros, as chamadas congregações, em que os cardeais eleitores e não eleitores tiveram ocasiões de falar”, de “uma maneira muito universal”, trazendo ao conjunto as “expectativas das suas terras, das suas dioceses e das suas culturas”.
Por isso, antes do conclave, “já tínhamos muita conversa feita e um perfil mais delineado daquilo que era a realização da expectativa da Igreja”, reconheceu, salientando que o processo “já estaria facilitado”.
Isso explica porque é que “em dois dias conseguimos chegar a uma eleição com mais de dois terços dos presentes”, disse Manuel Clemente.
O atraso de duas horas no fumo negro do primeiro dia do Conclave deveu-se não a um atraso na votação, mas a uma oração e reflexão com o cardeal Raniero Cantalamessa, sobre o que “é o papel do Papa nos tempos de que correm” e “da Igreja do mundo”.
Depois, as “votações são relativamente demoradas, tem de fazer um pequeno juramento e volta para o seu lugar”, explicou o antigo Patriarca de Lisboa.
“Nesta escolha nem há candidaturas próprias, nem há partidos ou fações” e “cada um teve as suas próprias motivações” para votar, explicou, por seu turno, António Marto.
Mas o “mais importante era continuar o legado e o estilo do Papa Francisco na sua conceção do ministério, num anúncio da evangelização e do Papa como rosto de uma igreja, mãe, amorosa, misericordiosa”, acrescentou o cardeal português, recordando as palavras de Francisco, como uma “Igreja hospital de campanha” ou uma “igreja em saída”, que “não fale sobre si mesmo” e “vá ao encontro de todos sem discriminação”.
Queria-se também uma “Igreja transparente porque está em causa a credibilidade moral da própria igreja sobre temas que mais de perto aparecem emergentes e urgentes”, como é o caso da “transparência nas questões económico-financeiras”, acrescentou.
Por outro lado, “o Papa Leão XIV é uma pessoa cheia de proximidade, de acolhimento e de escuta” mas também de “compaixão com os sofrimentos da humanidade e de cada pessoa em concreto”.
Apesar de tudo, “haveria outros [nomes] possíveis, mas a gente tem de escolher uma pessoa, não podemos escolher vários ao mesmo tempo”, gracejou.
António Marto admitiu que abraçou o ainda cardeal antes do Conclave com especial atenção: ”Dei-lhe um abraço de conforto, ele ficou assim” e disse-lhe: “O Espírito Santo nos iluminará. E ele sorriu”, recordou.
Quando lhe foi pedida a aceitação do resultado eleitoral, “pareceu-me sereno”, mas “imagino que estava comovido”, acrescentou o cardeal português, salientando que todo o processo foi tranquilo.
No primeiro almoço do conclave, na quinta-feira, decorreu “com alguma tranquilidade”, mas o “jantar foi de festa”, acrescentou, comentando a evolução dos votos.
Contudo, “foi muito cansativo este período e já preciso de voltar para Portugal”, salientou Marto, recordando que “nas congregações ainda havia tempo para um café”, mas “no conclave foi sempre a correr”.
Já segundo Américo Aguiar, “o Espírito Santo facilitou muito o trabalho” num Conclave que “não tem nada a ver com os livros ou com os filmes”.
É um “Papa que é americano, é filho de imigrantes, tem uma vivência sugestiva de tudo isto” e “está agora no centro da política mundial”, para procurar a paz mundial, afirmou Américo Aguiar.
O percurso de vida de Leão XIV “pode ser uma mais-valia para todos os problemas que estão em cima da mesa” na cena mundial, acrescentou o bispo de Setúbal, considerando que o novo líder da Igreja dará “uma particular importância” à “urgência da paz”.