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A maioria absoluta da AD (35,8%) com a IL (7,5%) é cada vez mais uma possibilidade para as eleições legislativas do próximo dia 18. Ao quarto dia da sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, as candidaturas lideradas por Luís Montenegro e Rui Rocha reúnem, juntas, 43,3% de intenções de voto. É o melhor resultado dos quatro dias de tracking poll, muito impulsionado pelos liberais que são o partido que mais cresce. Mas atenção, o número de indecisos disparou e já está muito perto dos 20%.
Luís Montenegro e Rui Rocha continuam com todas as razões para sorrir neste início de campanha. A amostra deste quarto dia ainda não reflete os debates conjuntos nas televisões e nas rádios entre todos os partidos com representação parlamentar, mas mantém-se a trajetória de crescimento da AD. Montenegro ganha quase dois pontos percentuais (p.p.) face ao estado inicial da tracking poll, a 2 de maio, e Rui Rocha consegue agora a maior subida, de um dia para o outro, entre todos os partidos, passando de 6,6% para 7,5%. A diferença entre a AD e o PS mantém-se nos 8,7%, tal como na sondagem anterior.
A recuperar terreno está o Chega (16,5%) que cresce pelo segundo dia consecutivo, mas ainda está distante dos 18,07% que lhe granjearam 50 deputados nas eleições legislativas do ano passado. À Esquerda o cenário continua a não ser animador. O Livre (3,4%) regista uma queda de 0,5 p.p. face ao dia anterior, o BE (1,8%) perde 0,3 p.p. e a CDU (3,2%) sobe ligeiramente. O PAN está cada vez mais irrelevante, fixando-se nos 0,6% que dificilmente conseguiriam assegurar a manutenção de Inês Sousa Real na Assembleia da República.
O JN iniciou, na sexta-feira, a publicação de uma tracking poll, que se prolongará até 16 de maio, o último dia da campanha, com resultados diários. Poderá seguir a evolução das intenções de voto na edição online, sempre às 20 horas, ou na edição impressa. Nesta quarta entrega, a amostra continua a ser de 800 inquéritos, mas as 200 entrevistas recolhidas a 30 de abril foram substituídas por outras 200 recolhidas a 4 de maio. Esta metodologia será repetida nas próximas sondagens diárias.
Refira-se que os 43,3% da AD e da IL, juntos, incluem a distribuição dos indecisos e ainda não serão suficientes para atingir uma maioria absoluta, para a qual são precisos 116 deputados. A percentagem necessária para o número mágico de parlamentares é sempre subjetiva pois tudo depende dos locais onde esses votos são alcançados: em distritos urbanos, com maior peso eleitoral, a possibilidade de aproveitamento é superior, ao passo que no Interior há mais probabilidade de desperdício.
António Costa conseguiu maioria com 41%
Por comparação, António Costa conseguiu sozinho uma folgada maioria absoluta de 120 deputados para o PS com 41,4% dos votos em 2022. No entanto, com António Guterres, os socialistas ficaram a um deputado dos 116 necessários, com 44,1%, em 1999. Refira-se que a probabilidade de votos desperdiçados numa coligação é sempre maior do que num partido sozinho. Assim, comparando coligações, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas precisaram de uma votação conjunta de 50,4% para alcançar a maioria absolutíssima de 132 deputados, em 2011, para o PSD e CDS-PP. Mas Durão Barroso, com o mesmo Paulo Portas, precisou de 48,9% para chegar aos 116 mandatos em 2002.
Desta forma, apesar de terem alcançado 43,3% nas intenções de voto da sondagem, Luís Montenegro e Rui Rocha ainda podem estar longe da maioria absoluta e não têm motivos para festejar já, sobretudo quando também há 19,8% de indecisos. O número de pessoas que não sabe em quem vai votar cresceu 2,5 p.p. em apenas um dia e atingiu o valor mais alto desde que a sondagem da Pitagórica começou a ser publicada.
Aliás, o crescimento da AD, PS, Chega e CDU é apenas sustentado na distribuição de indecisos, visto que a intenção de voto direta, sem distribuição de indecisos, até diminuiu para estas candidaturas. Isto acontece porque a distribuição dos indecisos é feita de forma proporcional à base de votação existente, o que beneficia os partidos que já têm maiores intenções de voto antes da repartição. Se analisarmos a intenção de voto direta e sem distribuição de indecisos, todos os partidos descem, exceto a IL, que sobe 0,6 p.p., para 6%.
Indecisos são homens, jovens e de Lisboa
A percentagem de indecisos é praticamente igual entre os homens (20%) e entre as mulheres (19%), mas foi entre o sexo masculino que mais cresceu no último dia. Por faixas etárias, todas registaram um aumento de indecisos, com enfoque nos jovens, que são já 26%. Ou seja, um em cada quatro jovens entre os 18 e os 34 anos ainda não sabe em quem vai votar. A região de Lisboa lidera no número de indecisos, com 21%, mas foi a Norte que mais aumentaram no último dia, tendo passado de 15% para 20%. Por classes sociais, é na classe alta e média alta que a indecisão é maior (23%) e foi também nesta que mais cresceu.
Portanto, se os partidos estão atentos aos eleitores indecisos, a margem de conquista é maior nos homens entre os 18 e os 34 anos, da região de Lisboa e das classes sociais mais elevadas. Apesar disso, a indecisão cresceu mais a Norte no último dia.
A evolução da tendência de voto por regiões registou várias alterações nos dois maiores partidos. O Norte continua a ser o bastião da AD, mas esta coligação perde dois p.p. face à sondagem anterior e baixa para 31% (antes da distribuição dos 19,8% de indecisos), ao passo que o PS recupera um p.p. e sobe para 21%. No Centro e em Lisboa, a tendência é inversa, ou seja, a AD ganha votos e o PS perde. Na região lisboeta, ao fim de três sondagens em que a vitória alternava entre a AD e o PS, os dois maiores partidos surgem agora empatados com 24%. Na região Centro, a AD atinge os 28% e alarga a margem para o PS que alcança apenas 21%.
Quanto aos restantes partidos, o Chega mantém-se mais forte no Centro e no “Sul + Ilhas”, ao passo que a IL sai favorecida a Norte e na região de Lisboa. Paulo Raimundo e Mariana Mortágua alcançam melhores resultados no Sul e Ilhas, enquanto Rui Tavares sai favorecido no Centro e em Lisboa.
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PS só bate Chega entre os mais velhos
Na análise por idades, o destaque vai para o facto de os três principais partidos ou coligações (AD, PS e Chega) perderem votos entre os jovens (18 aos 34 anos). Estes eleitores são recuperáveis, visto que nesta sondagem foram transferidos para os indecisos. Ou seja, os jovens que não sabem em quem vão votar são agora 26%, mais seis p.p. do que no início da tracking poll. São, de longe, a faixa etária mais indecisa. Entre os 35 e os 54 anos há 18% de indecisos e acima dos 55 anos há apenas 17% que não sabem em quem vão votar.
A AD lidera nas intenções de voto de todas as faixas etárias, mas os sinais de preocupação para o PS não se esgotam aqui. É que Pedro Nuno Santos também só consegue bater o Chega na faixa etária acima dos 55 anos (31% contra 7%). Nos jovens e entre os 35 e os 54 anos, André Ventura surge em segundo lugar, depois da AD. Aliás, nos jovens, o Chega tem 18%, quase o dobro dos 10% do PS. E entre os 35 e os 54 anos, Pedro Nuno Santos alcança apenas 17%, praticamente metade dos 30% conseguidos por Luís Montenegro.
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Quanto aos restantes partidos, tal como o Chega, a IL tem uma predominância do voto jovem, onde alcança os 14%. Entre os 35 e os 54 anos apenas se fica pelos 5% e acima dos 55 anos só alcança 2%. Pelo contrário, Paulo Raimundo consegue 4% nos votos dos mais velhos, o dobro dos 2% que atinge com os jovens e entre os 35 e os 54 anos. Por sua vez, o Livre conquista mais eleitores entre os 35 e os 54 anos (5%), mas perde nos jovens (2%) e nos maiores de 55 anos (1%). A variação da intenção de voto por faixa etária é residual no BE e no PAN.
Por classes sociais, a AD seria vencedora em todas, exceto na média baixa e baixa, onde empata com o PS, ambos com 26% antes da distribuição de indecisos. Quanto mais alta é a classe social do eleitor, maior é a diferença entre a AD e o PS, com vantagem para Luís Montenegro. Tal como o PS, André Ventura consegue mais votos entre as classes sociais mais baixas (18%) do que nas mais altas (8%). Na IL, a dinâmica é semelhante à da AD, pois quanto mais alta é a classe social, maior é a intenção de voto em Rui Rocha. No PAN, BE, CDU e Livre não há diferenças significativas por classe social.
Três em cada quatro acreditam que AD vai ganhar
A sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN questionou ainda os eleitores sobre quem acha que vai ganhar, independentemente do seu voto. De forma esmagadora (73%), quase três em cada quatro portugueses acham que a AD sairá vencedora das eleições de 18 de maio, numa percentagem que tem vindo paulatinamente a aumentar desde o início da sondagem. A 2 de maio estava em 69%. A cair está o número de eleitores que acham que será o PS a ganhar as eleições. São agora 12%, menos dois p.p. do que no início da tracking poll. O número de inquiridos que não arriscam dizer quem ganha também está a diminuir, tendo passado de 15% para 13%. A vitória do Chega apenas convence 2% da amostra.
À medida que os debates, anúncios e arruadas se realizam, é maior a presença dos candidatos na comunicação social. Com exceção de Inês Sousa Real, cuja exposição mediática diminuiu desde a sondagem de domingo, todos os líderes conseguiram maior visibilidade na comunicação social. Luís Montenegro foi visto por 74% dos inquiridos e continua a ser o mais exposto, seguido de Pedro Nuno Santos (68%) e de André Ventura (51%). O socialista foi o que mais cresceu no último dia, tendo passado de 63% para 68%.
No entanto, a simples exposição mediática não significa que isso seja favorável ao candidato. Por exemplo, no caso de Luís Montenegro, a diferença entre as opiniões positivas e negativas era neutra, enquanto agora está três pontos negativos. Ou seja, a maior visibilidade não o terá beneficiado. Pedro Nuno Santos mantém-se com 12 pontos negativos há três dias e André Ventura continua a ser o mais prejudicado pela exposição mediática, com 21 pontos negativos, ainda assim melhor do que os 26 pontos negativos do dia anterior.
Os únicos candidatos que saem beneficiados com a exposição mediática são Rui Rocha e Rui Tavares. O líder da IL tem 30% de exposição e 12 pontos positivos, ao passo que o co-porta-voz do Livre alcança 28% de mediatismo e 10 pontos positivos na opinião dos eleitores. Mariana Mortágua (-14), Inês Sousa Real (-11) e Paulo Raimundo (-7) estão todos em terreno negativo, apesar da reduzida exposição mediática.
À medida que a tracking poll avança, começa a ser possível identificar tendências e os dados relativos à forma como o país é governado não têm registado grandes oscilações. A percentagem de inquiridos que querem que “mudem algumas coisas e continuem outras” segue maioritária (66%). Cresceu ligeiramente, para 22%, a percentagem de inquiridos que desejam a mudança total no rumo governativo e, por fim, apenas 10% querem total continuidade de políticas.
Luís Montenegro venceu duelos
Quanto aos debates, os grandes vencedores parecem ser Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Refira-se que esta sondagem foi realizada antes dos debates de todos contra todos, mas os duelos frente a frente já estavam realizados. Assim, para 24,9% dos inquiridos, Luís Montenegro venceu os debates a dois e há mais gente a achá-lo agora, visto que esta percentagem era de 23,5%, no domingo. A crescer está também a prestação de Pedro Nuno Santos, o vencedor para 11,5% dos inquiridos, quando estava em 10,5% na sondagem anterior.
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Todos os restantes candidatos registam uma queda diária na performance dos debates. André Ventura, com 9,6%, continua a ser o terceiro melhor debatente, seguido por Rui Rocha (4,7%), Rui Tavares (4,3%) e Mariana Mortágua (2,1%). Os restantes candidatos, juntos, não ultrapassam os 2%. Há, ainda, 40,9% de inquiridos que não indicaram preferência, seja porque não assistiram a qualquer debate (9,5%) ou porque não sabem responder à questão (31,4%).
Ficha técnica
Durante 4 dias (1, 2, 3 e 4 de maio de 2025) foram recolhidas diariamente pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN um mínimo de 202 a 203 entrevistas (dependendo dos acertos das quotas amostrais) de forma a garantir uma sub-amostra diária representativa do universo eleitoral português (não probabilístico). Foram tidos como critérios amostrais o género, três cortes etários e 20 cortes geográficos (distritos, Madeira e Açores). O resultado do apuramento dos quatro últimos dias de trabalho de campo, resultou numa amostra de 810 entrevistas que, para um grau de confiança de 95,5%, corresponde a uma margem de erro máxima de ±3,51. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos três principais operadores móveis. Sempre que necessário foram selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI). O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores portugueses, sobre temas relacionados com as eleições, nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto dos vários partidos. Foram realizadas 1529 tentativas de contacto, para alcançarmos 810 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 52,77%. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.