
Foto: Pedro Correia
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A Aliança Democrática venceu as legislativas com reforço da votação, expoente máximo do crescimento da Direita e de uma derrocada da Esquerda à qual apenas o Livre escapou, mas nem por isso a questão da governabilidade ficou resolvida. Seria a grande nota da noite eleitoral, se tivesse acontecido. Como não se verificou, o dado mais relevante reside no evidente corte com a realidade política do Portugal pós-25 de Abril: o país centrado em dois grandes partidos, PSD e PS, desapareceu, emergindo um Portugal (mais) tripartido, com os extremistas do Chega em sentido ascendente desde que se submeteram pela primeira vez a votos, provavelmente até à frente dos socialistas em número de mandatos, quando forem conhecidos os resultados dos círculos da emigração. Ou seja, em linha com um partido do arco da governação. Nem por isso será mais fácil governar, porque não é expectável que Luís Montenegro quebre a linha vermelha que separa o PSD dos radicais de André Ventura. O resultado da Iniciativa Liberal também de pouco serve para tornar a maioria do Governo mais sólida, pelo que os portugueses têm legitimidade para questionar se a queda do Executivo, na sequência de uma moção de confiança apresentada pela AD, que não passou na Assembleia da República, era mesmo necessária. Numa primeira leitura, mesmo tendo presente a subida dos sociais-democratas, a aritmética política no Parlamento não muda no sentido de uma maior estabilidade executiva. Pelo contrário, fomenta a fragmentação, com a entrada de um novo partido (JPP) e o aumento de bancadas unipessoais. É admissível concluir que o melhor que Luís Montenegro conseguiu foi potenciar o reforço dos extremistas de direita – alavancados pelos algoritmos das redes sociais, onde prolifera a informação falsa e não verificada – e o trambolhão dos socialistas, os democratas que, com sentido de Estado, lhe viabilizaram o programa de Governo e o Orçamento. Que vitória é esta? O futuro dirá.

