Recordo a imensidão daquela praia de areia invisível, coberta de jovens, a aguardar Francisco, num lençol humano ilimitado de países sem fronteiras.
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Chegou apenas com uma pasta na mão, sob aplausos ininterruptos de nos cortar a respiração. Recordo, ainda, a sua primeira imagem em chão português, em cadeira de rodas, frente ao avião. Uma imagem de humildade, num mundo que ainda não aceita a diferença, que negligencia as pessoas com mobilidade condicionada. Francisco dava o maior exemplo de inclusão.
Estes dois momentos das JMJ do Rio e de Lisboa sensibilizaram-me para a vida. Francisco construía um novo caminho na igreja, disruptivo e sem tabus.
Era um Papa construtor de cidades. Queria que a cidade fosse para todos, todos, todos. Queria abraçar as mães solteiras, as mulheres vítimas de violência, as crianças sem pais, os idosos isolados, as pessoas com deficiência e os mais vulneráveis. Queria uma cidade assente na diversidade política, sexual e religiosa, onde via o futebol e o tango como aragens na dignidade humana de um coletivo.
Disse que a cidade é casa comum de todos, porque sentiu-o nos bairros periféricos da Argentina, onde viveu em missão, alinhado ao conceito de cidade como palco de uma estrutura social em que o direito à equidade e oportunidades, respeita a diversidade de todos. Foi um ativista pelo nosso planeta, pelos ecossistemas naturais, apelando aos jovens essa responsabilidade.
E na mobilidade, andava de metro, de bicicleta e a pé, numa relação de proximidade com as pessoas.Perdemos o Papa da minha vida. Saibamos ver nos gestos humanos de um mundo em guerra, a palete de cores que nos tentou mostrar, na sua simplicidade única e maior.