Com mais de 25 anos de carreira, Lura regressa aos palcos com o novo espetáculo “Theater Sessions”, esta sexta-feira, no CCB, em Lisboa. “Theater Sessions” vai ser apresentado no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), às 21 horas. Muitas surpresas aguardam o público neste espetáculo para o outuno/inverno.
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A reconhecida e uma das mais importantes vozes da cultura lusófona, depois de oito anos sem lançar reportório, regressa aos palcos com um novo projeto que inclui canções emblemáticas do seu percurso na música, homenagens aos artistas que a inspiraram e temas do mais recente álbum “Multicolor”. O novo disco, lançado em agosto de 2023, reflete e exalta a dupla nacionalidade da cantora. Lura reconhece que depois de 25 anos de carreira sente-se mais madura, focada e por isso quis tornar as mensagens das suas músicas mais claras. Sente mais necessidade de usar a sua voz para falar das temáticas que a preocupam, que a façam feliz, que para a cantora são importantes e indispensáveis. O JN, em conversa com Lura, foi descobrir mais sobre este novo álbum e sobre o novo espetáculo “Theater Sessions”, que irá refletir este crescimento da cantora, não só na sua música, como também na sua vida.
O que despoletou o regresso à música?
Eu levo a música com espírito de missão e acho que tenho de cumprir este propósito de vida. Não me quero defraudar, nem às pessoas que me seguem, que acreditam em mim e isso acaba por me dar aqui uma responsabilidade acrescida e lá está é a minha vida. A única coisa que eu quero é continuar a reinventar-me, a crescer e a criar música cada vez melhor, mas sendo sempre fiel a mim própria. Por isso é que acaba por sempre uma missão/paixão.
Como nasceu este novo álbum “Multicolor”?
Nasce a partir de muitas coisas. Um novo álbum retrata sempre um percurso de vida, neste caso da minha. O último que lancei foi em 2015 e um ano depois nasceu a minha filha, vim viver para Lisboa. Quando cheguei, separei-me e tive de adaptar-me à vida de mãe solteira. Não tive descanso e a pandemia não ajudou ninguém. Este álbum retrata muito aquilo que nos afeta. Fala muito sobre a autoestima, a força da mulher, a força que precisamos de ter para levar a nossa vida para a frente. Fala sobre a minha identidade, que é algo que me acompanha e que eu quero cada vez mais olhar para ela como algo assumido. Por outro lado, já estava há muitos anos a fazer o mesmo e aptecia-me reinventar-me. Falar de assuntos que eu acho que são importantes e que eu sei que posso partilhar com outras pessoas, com outras mulheres que estejam no mesmo nível e entendimento que eu e que eu possa dar voz aos sentimentos dessas pessoas. Nasce também de uma vontade de criar um disco mais moderno, atual e por isso decidi mudar a sonoridade. Convidei o Agir para acompanhar-me neste caminho e chegamos à conclusão que nesta mudança de roupas e armário, o mais importante era preservar a minha identidade, não perder a Lura por aí.
“Multicolor” conta alguma história?
Acabámos por construir algo que reflete muito a minha essência, que aprofunda-se nas minhas raízes, para mostrar a minha força. Desde as raízes até à minha força, passamos por vários momentos neste álbum. Pelo gosto de dançar, pela vontade de inclusão, de aceitar o outro e ser aceite pelo outro. A identidade, a luta contra a discriminação, as histórias de amor pelas quais todos nós passamos, a autoestima, a vontade de ser alegre. Enfim, fala daquilo que nos dá personalidade.
Destaca alguma música do “Multicolor”?
“Sou de cá” é a alminha deste disco, porque retrata a minha dupla nacionalidade, a minha identidade. Arrisco a dizer que até pode ser a origem do nome do disco. Este tema é uma afirmação - se eu nasci aqui, eu sou de cá, mas também sou de Cabo Verde. A verdade é que eu sou de onde eu estiver, de onde o meu coração estiver. Nós podemos ser de onde quisermos. Revejo-me completamente neste tema, que foi escrito por José Eduardo Agualusa. Mais internacional e lusófono que este escritor, não existe.
Como tem sido o regresso aos palcos com novas músicas?
É muito bom regressar com novas músicas. Para mim, estar em palco é um combustível. Se eu ficar muito tempo sem palco, pareço uma plantinha a murchar. Depois, quando vou para palco parece que recarrego as minhas energias e o meu corpo fica cheio de alegria, a máquina começa a funcionar. Estes sinais dizem-me que a música é mesmo a minha vida. Com o “multicolor” tem sido ainda melhor o regresso, pois estou a trabalhar num espetáculo com a minha banda que está a ficar cada vez mais solidificado. A primeira abordagem foi em Guimarães, onde coloquei em palco o “Theater Sessions” e correu super bem.
Nestes 25 anos de carreira, qual é que foi o momento mais impactante?
Eu não sonhava ser cantora, mas depois descobri a minha voz e isso mudou por completo a minha vida. Ofereceu-me oportunidades incríveis que me apanharam completamente de surpresa. Um deles foi quando cantei em palco com a cantora cabo-verdiana Cesária Évora. Foi assim um daqueles momentos que eu enquanto cantava dizia - Lura faz de conta que isto não está a acontecer, não chores, concentra-te, tem de correr bem - e foi difícil, porque foi um momento muito forte.
O que vem aí?
Vem aí um espetáculo bonito, em que eu me vou sentir mais livre, onde eu me sinto mais livre das minhas experiências e na minha atuação em palco. Vem o “Multicolor” no seu melhor, porque é um espetáculo que ainda está a nascer e estou expectante de vê-lo crescer e que o que venha aí principalmente me satisfaça.
Há algum plano de vir ao Porto?
Se não houver, vou fazer por isso. Até parece frase feita, mas o Porto surpreende muito pela positiva. O público do Porto é muito autêntico. Confesso que fiz dois espetáculos, um em Lisboa e outro no Porto. No CCB correu muito bem, mas na Casa Da Música estava receosa que as pessoas não conhecessem tão bem a minha música. Não sabia se ia correr tão bem. Mas meu Deus, que reações incríveis. Eu pedi para as pessoas porem-se de pé, para dançarem o funaná e a Casa da Música vibrou. Amei sinceramente.

