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Tenho boa impressão de Fernando Alexandre, ministro da Educação e de uma série de outras coisas que não vêm ao caso. Um académico que pensa e faz. Um gestor de pessoas e números, mas que, ao que me juram, se perde nos romances e num bom poema. Um tipo decente que envelheceu mais nestes dias do que nos últimos anos.
Há coisas que deviam ser proibidas. Engolir elefantes é uma delas. Obriga-nos a abrir tanto a boca que acabamos por correr o risco de tragar convicções que construímos durante uma vida. Ver o pobre ministro a defender que o fim da educação sexual nas aulas de Cidadania, afinal, não é bem o fim, vê-lo emaranhado num passe de mágica que envergonharia Luís de Matos é triste e embaraçante.
Fernando Alexandre, tal como quase todos os ministros, sabe que a educação sexual não é uma matéria ideológica. Nada no que foi retirado tem a ver com Esquerda ou Direita. É saúde pública. É poder dizer aos miúdos que a mulher não existe para levar porrada dos homens, é oferecer-lhes a possibilidade de pensarem sobre a violência no namoro, sobre o modo como se devem proteger para não terem bebés antes de tempo ou o que precisam de fazer se forem ameaçados ou violentados em casa ou fora dela. Não é ideológico, é civilizacional, uma defesa contra a barbárie. Não tenho nada contra a tática política, mas, caro primeiro-ministro, não deixe que a conjuntura seja mais importante do que o estômago do seu ministro e do seu, claro. Para uma boa governação é decisivo evitar o refluxo.