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Luís Montenegro apresentou o seu Governo. Dizer que é novo, no entanto, talvez seja exagerado. O primeiro-ministro optou, na verdade, por uma “remodelação”, substituindo duas ministras contestadas (Administração Interna e Cultura), um outro que não queria continuar (Economia), e outro ainda para quem a “cadeira de sonho” é a dos Paços do Concelho do Porto (Pedro Duarte). Quem se aguentou, apesar de ser a menos popular das ministras, foi Ana Paula Martins, que continuará a tutelar a máquina de triturar a que chamamos Ministério da Saúde. Se os poucos que entram farão um bom trabalho e se as mudanças foram certeiras (há pastas a mudar de mãos), saberemos nos próximos meses. Como em quase tudo, também os ministros são como os melões: só depois de abertos sabemos se são bons.
Temos um “novo” Governo que enfrentará velhos problemas. Seria possível falar da Saúde, da Habitação, da Educação, dos salários, mas há um que cruza todas essas áreas e talvez seja a melhor explicação para o facto de este ser, e para usar outro adágio, um país que não se governa, nem se deixa governar. A pobreza, essa mancha que, ano após ano, Governo após Governo, teima em manter-se agarrada ao tecido que é Portugal.
Dizem os investigadores da Nova SBE, que o tira-nódoas custaria o equivalente a 3,5 mil milhões de euros, ou seja, 1,3% do PIB. É apenas um “conceito ilustrativo”, mas ajuda a perceber quanto dinheiro faltaria para que os 1,7 milhões de pobres deixassem de ser pobres. E é uma boa forma de percebermos a gritante desigualdade do país em que vivemos e da necessidade de encontrar formas de distribuir melhor a SUA riqueza. Para quem julgue que é um preço elevado, lembro outros dados: os 3,8 mil milhões de euros de lucros da CGD nos últimos três anos; e a pressão para chegar a um gasto com defesa e segurança de 5% do PIB. Qualquer destes números é superior ao que agora nos falta para que os pobres deixem de ser pobres.