Com enorme sentimento de irrazoabilidade, o país tem eleições marcadas para dia 18 de maio e um calvário eleitoral pelo meio que, infelizmente, arrastará o debate político para um pântano em que a maioria dos partidos não resistirá a navegar. Esta triste crise política, quase amadora e plastificada a capa dura por cenas deprimentes no Parlamento através de episódios dignos de lutas de associação de estudantes de liceu, não teve ainda o seu apogeu. O que virá.
Luís Montenegro não explica porque prefere não explicar. Porque, ainda que com todos os riscos, é para ele mais seguro ir a eleições do que a queima em lume brando de uma Comissão Parlamentar de Inquérito onde acredita que os jornalistas estarão com o auricular no ouvido a fazer perguntas. Mesmo que, tantas vezes, política e negócios de confundam. Mesmo que as portas giratórias façam o seu percurso sem período de nojo. Depois do que sucedeu com José Sócrates e com o parágrafo de António Costa, é muito difícil imaginar que pessoas preparadas durante anos para o exercício de cargos públicos não percebam que têm mesmo de largar os seus negócios à porta, sobretudo quando assumem responsabilidades governativas.
A responsabilidade política desta crise tem um nome e uma causa impulsionadora. No contexto dos factos já conhecidos e daqueles que o primeiro-ministro não explica, Luís Montenegro e Comissão Parlamentar de Inquérito não coincidem no mesmo tempo útil. Mas não podem ser eleições a julgar eventuais ilícitos éticos cometidos por Montenegro, pelo que o primeiro-ministro arrasta o líder do PSD para uma Comissão Eleitoral de Inquérito. E, apesar do discurso pela positiva que alguns líderes partidários procuram defender ao dia de hoje, será à volta desta absoluta angústia que se fará uma campanha eleitoral. Dois meses em que não se tratará de nada mais senão de políticos a convocarem um largo júri colectivo, provavelmente abstencionista, para um julgamento popular.
Sobre julgamentos à medida, Pedro Nuno Santos pode não querer dar relevância às declarações de José Pedro Aguiar-Branco, sugerindo que o papel do líder do PS é mais nocivo para a democracia do que o de André Ventura. Mas convenhamos que isso diz mais sobre o guinar à direita de um certo PSD que espera o regresso de Passos Coelho do que sobre qualquer outra coisa. E talvez explique muito do que foi permitido no Parlamento durante esta curta e inusitada legislatura. O curto prazo de validade que se augurava ao Governo de Montenegro não passou do prazo. Há um outro PSD à espreita.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia

