A convulsão que se esperava confirmou-se em vários países da Europa, mas Portugal navegou em sentido diverso da maré populista e de extrema-direita. O espaço reconfigurado à Direita obrigou André Ventura a assumir uma derrota que vai além da péssima escolha do cabeça de lista: mostrou o quanto é frágil a base de um partido que não escondia a ambição de continuar a crescer. O voto de protesto não é necessariamente um voto de confiança no Chega, o que é uma boa notícia para a democracia.
Ainda que com os partidos europeístas em maioria e sem o temido “momento Trump” da União, são claros os desafios que a nova configuração do Parlamento Europeu permite antever, com o risco de desvalorização da agenda de transição energética e de uma visão menos solidária e humanista relativamente às migrações. A radicalização já não é uma mera ameaça e causou ondas de choque bem visíveis com as demissões dos chefes de Governo em França e na Bélgica.
Dentro de portas, os resultados não terão consequências, mas permitem perceber que a ideia de forçar rapidamente eleições legislativas poderá ser desastrosa tanto à Esquerda como à Direita. De novo com um cenário de empate, o PS consegue uma vitória curta mas olha para o lado e vê o espaço dos parceiros cada vez mais vazio. Pedro Nuno Santos pode ser o homem da “geringonça”, mas não tem neste momento peças para voltar a pensar numa nova máquina.
A AD parece ter conseguido recuperar algum eleitorado ao Chega, e até pode invocar os resultados historicamente maus em eleições europeias para (quase) cantar vitória, mas não evita o brilho de Cotrim de Figueiredo, claramente um rosto que vale mais do que o atual líder da Iniciativa Liberal. O forte envolvimento de Luís Montenegro na campanha e a sucessão de anúncios do Governo acabam por não dar os frutos suficientes para fortalecer o espaço da AD. Quando muito, abre-se a janela para uma nova forma de perspetivar alianças à Direita no futuro. Não por acaso, IL e AD esforçaram-se por colar o Chega ao PS, empurrando-o para fora da sua área política.
Apesar do pessimismo e de um único momento de perturbação, o sistema tecnológico cumpriu e o voto em mobilidade foi uma das conquistas seguras nesta votação. Em fim de semana prolongado, terá contribuído de forma decisiva para a descida da abstenção e sobretudo para a comodidade de voto de eleitores deslocados da área de residência. O modelo como está não poderá ser replicado em eleições autárquicas ou legislativas, mas vale a pena pensar em como utilizar a tecnologia para aproximar os cidadãos das urnas.

