Em vias de ser apresentado como novo treinador do F. C. Porto, o italiano Farioli terá pela frente a dura missão de devolver os dias felizes aos dragões. Do reforço do plantel ao estilo de jogo, passando pela disciplina, eis as tarefas do técnico.
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Reformular o plantel e entrar na luta por títulos
É ponto assente que, na época passada, o plantel do F. C. Porto não estava à altura dos rivais Sporting e Benfica. Para entrar na luta pelos títulos, sobretudo no campeonato, os dragões terão de se reforçar com qualidade no mercado e Farioli terá, obviamente, uma palavra a dizer nos jogadores a adquirir, sendo que, aproveitando a janela excecional aberta pela FIFA devido à realização do Mundial de Clubes, a SAD azul e branca já garantiu, no final de maio, a contratação do médio-ofensivo Gabri Veiga (ex-Al Ahli). Entre as posições prioritárias, estão o centro da defesa, o meio-campo e as alas do ataque, estando, aparentemente, aberta a porta de saída a uma série de elementos do plantel anterior, quase todos pouco influentes, entre os quais Otávio Ataíde, Zaidu, Grujic, Pepê, André Franco, Gonçalo Borges e Namaso. Isto sem esquecer que Iván Marcano, Tiago Djaló e Fábio Vieira já saíram do Dragão, o primeiro rumo a um provável final de carreira, e os dois últimos por terem concluído os empréstimos feitos na época passada pela Juventus e pelo Arsenal, respetivamente.
Criar empatia com a massa associativa
Durante os cinco meses em que Martín Anselmi esteve ao comando da equipa portista, a descrença tomou conta dos adeptos dos dragões, que, valha a verdade, também não chegaram a acreditar que Vítor Bruno pudesse conduzir a equipa azul e branca ao sucesso na época passada, apesar do bom início, marcado pela conquista da Supertaça frente ao Sporting logo no primeiro jogo oficial. Mesmo com o benefício da dúvida dos sócios nas semanas que se seguiram à chegada à Invicta, Anselmi nunca foi capaz de criar a ideia de que iria dar a volta ao marasmo em que o F. C. Porto caiu a partir de janeiro e uma das prioridades de Francesco Farioli será mostrar aos adeptos um estilo de futebol mais consistente, talvez logo a partir dos jogos da pré-temporada. O histórico do técnico diz que costuma ter equipas seguras a defender (Nice e Ajax foram os menos batidos das ligas francesa e neerlandesa nas últimas duas épocas) e com mobilidade no ataque. Isso terá de ser realidade nas primeiras jornadas do campeonato, durante as quais os dragões recebem o V. Guimarães e vão a Alvalade.
Organizar a equipa e estancar a defesa
Não era preciso ser um mestre da tática ou um “expert” em futebol para perceber a desorganização reinante na equipa portista durante o consulado de Martín Anselmi. Sob o comando do técnico argentino, a falta de organização tornou-se gritante, a começar pela forma como os dragões queriam atacar, que, ao mínimo erro, abria autoestradas na transição defensiva que muitas vezes foram aproveitadas pelos adversários para criar perigo e marcar golos. Ao contrário do que fez Anselmi, Farioli terá de adaptar a forma de jogar às caraterísticas dos jogadores que tiver à disposição no plantel, sobretudo a nível defensivo, esperando-se que abandone de imediato o modelo de três atrás, até porque é um habitual adepto do 4-3-3. Colocar a equipa a jogar com mais segurança no setor recuado e permitir menos hipóteses de golos aos adversários será primordial para que os portistas possam atacar de outra forma, mais intensa e incisiva. Claro que, para isso, também será fundamental que ao plantel azul e branco cheguem nas próximas semanas outro tipo de armas.
Dinamizar o ataque e potenciar Samu
Outro dos factos que saltaram à vista na parte final da época passada foi a dificuldade que o F. C. Porto sentiu para criar oportunidades de golo. Um dos jogadores mais prejudicados pelo estilo de jogo adotado por Anselmi foi o avançado Samu, mal servido na grande maioria dos jogos, a ponto de, sem contar com penáltis convertidos, só ter marcado quatro golos desde janeiro. Criar uma forma de jogar mais envolvente, que seja capaz de aproveitar as caraterísticas do internacional espanhol, como se viu, com Vítor Bruno, nos primeiros meses depois de ter sido contratado, será uma das missões de Francesco Farioli. Outra prioridade será continuar a dar a Rodrigo Mora o espaço para dar largas ao enorme talento que possui, este talvez o único aspeto em que Martín Anselmi não falhou: foi sob o comando do argentino que o jovem formado no Olival explodiu no plantel principal, a ponto de ter resolvido quase sozinho a maior parte dos jogos que o F. C. Porto ganhou sob o comando do treinador sul-americano, quase sempre com golos marcados em lances de inspiração individual.
Ter pulso no balneário para acabar com os casos
Ao longo da temporada transata, foram várias as polémicas dentro do balneário portista, tanto sob o comando de Vítor Bruno como de Martín Anselmi. De Pepê a Otávio, passando por Fábio Vieira e Samu, só citar os casos que se tornaram públicos, sucederam-se os incidentes disciplinares, que também prejudicaram o rendimento da equipa portista em campo. Para Francesco Farioli, será, também isso, fundamental ter mão forte no grupo e passar uma ideia de liderança à prova de bala, capaz de matar à partida qualquer problema que possa existir, sendo certo que, durante uma época, e num plantel extenso e heterogéneo como o de um clube como o F. C. Porto, há sempre situações complicadas para gerir e resolver, também ao nível dos egos dos jogadores. Um dos segredos será ter, no balneário, jogadores experientes para ajudar o treinador, mas essa é uma realidade que, para já, os dragões não vivem: com a saída de Marcano, à exceção do guarda-redes Cláudio Ramos, não há neste momento no plantel azul e branco nenhum jogador com mais de 30 anos.