Regressou a lancha. Não digo com pompa, mas com alguma circunstância (os responsáveis até apelaram a que o melhoramento vá além de Outubro).
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Decididamente, depois de trezentos anos de Inquisição, cinquenta de Ditadura e, pelo meio, oportunidades liberais e republicanas desbaratadas nos desentendimentos de políticos e políticas, este país voa muito baixo.
Na nossa pequenez, é usual ouvir-se que não podemos aspirar a ter a lua. Mas Jorge de Sena dizia sempre que, pelo contrário, devemos querer conquistá-la. E se não conseguirmos, pode ser que ganhemos um candeeeiro que ilumine toda a rua. Isto vem a propósito da retoma, com laivos de celebração e brindes, da carreira da lancha entre o Ouro e a Afurada, ligação essencial que os deuses da indiferença, do poucochinho ou da mediocridade, há anos extinguiram.
Em país ávido de desenvolvimento e reformas, cuja economia conhece, através do turismo, um empurrão assinalável, este país tem de se habituar a exigir a lua de projectos qualificadores dos seus recursos. Ignorar (como até agora) o manancial social, financeiro e cultural desta ligação do Porto a uma das comunidades mais ca-racterísticas e diferenciadoras da sua Área Metropolitana, não é descuido, é falta de visão e de aspiração à excelência da oferta.
Já não falo em túneis sob o rio, como em cidades europeias e americanas (e ainda menos no túnel sob a Mancha) mas, que diabo, fazer festividade pela entrada ao serviço de uma lancha de vinte lugares para ligar margens convidativas e esplendorosas e colocar a dúvida sobre se o serviço irá além de Outubro, não dá para acreditar.
O autor escreve segundo a antiga ortografia