
A escolha de Pedro Nuno Santos dá novo fôlego ao PS
Álvaro Isidoro / Global Imagens
Liderança de Pedro Nuno Santos dá gás a socialistas. Luís Montenegro continua em perda. Direita ainda vale mais do que a Esquerda, mas PAN pode mudar a equação.
A escolha de Pedro Nuno Santos parece ter dado um novo fôlego ao PS. Na mais recente sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF, os socialistas crescem (34,1%) e aumentam a distância para o PSD de Luís Montenegro, que continua em perda (24,8%). O Chega permanece destacado no terceiro lugar (16,3%) e já vale tanto quanto a soma dos quatro partidos que se seguem: BE (6,3%), Iniciativa Liberal (4,1%), PAN (3,7%) e CDU (2,7%). No fundo da tabela estão o Livre (1,8%) e o CDS (1,2%).
Quando faltam pouco mais de dois meses para as legislativas de 10 de março, a tendência dificilmente poderia ser melhor para Pedro Nuno Santos e, na outra face da moeda, pior para Luís Montenegro. Os socialistas, que em julho passado tinham um escasso ponto de vantagem para os sociais-democratas, alargaram a vantagem para quatro pontos em outubro e para seis em novembro, ainda com António Costa na liderança. Neste mês de dezembro, o fosso é de nove pontos e, a julgar pela análise aos segmentos da amostra, foram as mulheres que mais contribuíram para isso: entre o eleitorado feminino, o PS subiu três pontos desde novembro e o PSD desceu quatro.
Apesar do primeiro lugar dos socialistas, o bloco de partidos à Direita ainda vale mais do que o bloco de partidos à Esquerda, mesmo que a diferença se reduza a escasso ponto e meio. O que poderia introduzir um novo dado na equação parlamentar, se estes resultados se confirmassem nas urnas: estaria nas mãos do PAN de Inês Sousa Real (que volta a crescer nas projeções e ultrapassa a CDU de Paulo Raimundo) a possibilidade de garantir a viabilidade de um Governo à Esquerda.
Dificuldades no PSD
Apesar dessa teórica maioria de Direita, a possibilidade de Luís Montenegro se tornar primeiro-ministro, nesta altura, encolhe dramaticamente. Sem o Chega, a Direita (PSD, IL e CDS) vale apenas 30 pontos percentuais, a pior marca do conjunto de sondagens feitas ao longo deste ano pela Aximage (nas últimas eleições legislativas, em janeiro de 2022, somou quase 36 pontos). Mesmo que o PAN se juntasse a uma “coligação” pós-eleitoral à Direita (a exemplo do que fez recentemente na Madeira), esta continuaria abaixo (33,8) do que vale, isoladamente, o PS (34,1%).
Já foi anunciado que, na próxima quinta-feira (4 de janeiro), será formalizada uma coligação pré-eleitoral entre o PSD e o CDS. O trabalho de campo desta sondagem decorreu durante a semana anterior ao Natal, antes de ter sido efetivado o acordo e, portanto, não é capaz de medir os seus efeitos. O que se percebe, por agora, é que a soma aritmética dos dois partidos só chega aos 26%, abaixo dos 31 pontos das legislativas de 2022, e muito longe dos 37 pontos obtidos pela coligação liderada por Pedro Passos Coelho em 2015 (venceu as eleições, mas foi derrotado pelo acordo parlamentar entre PS, BE e PCP).
A atual projeção de resultados para Luís Montenegro (e é importante dizer que uma sondagem é sempre o retrato de um tempo que já passou), a concretizar-se nas urnas, só teria paralelo com as primeiras eleições para a Assembleia da República, em 1976, em que o PSD conseguiu 24,4%. Coincidência ou não, nessa altura, havia à Direita dos sociais-democratas um CDS que valia 16%, exatamente o mesmo que agora é apontado ao Chega de André Ventura.
BE perde fôlego
Do pódio para baixo, o partido que mais se destaca é o Bloco de Esquerda. Mesmo que esteja a perder fôlego desde julho (essa primeira sondagem com a nova líder, Mariana Mortágua, projetava 8%), continua dois pontos acima do resultado das últimas legislativas. O mesmo valor que esta sondagem soma ao PAN. Mas vale a pena acrescentar que o partido liderado por Inês Sousa Real regista quase sempre grandes oscilações, sinal de alguma falta de convicção entre os seus potenciais eleitores.
Ainda assim, o PAN volta a ultrapassar a CDU (a coligação eleitoral dos comunistas), que cai para o pior resultado do ano, quase dois pontos abaixo das legislativas de 2022, que já tinham sido as piores da sua longa história. Mais abaixo estão o Livre, de Rui Tavares, que, no início deste ano, chegou a estar acima dos três pontos; e o CDS de Nuno Melo, que não descola do ponto percentual. Os centristas, no entanto, voltarão ao Parlamento, se se confirmar que o acordo com o PSD lhes garante dois deputados.
Se tivermos em conta a “margem de erro” da sondagem, que é de mais ou menos 3,5%, tudo é possível para os partidos do fundo da tabela, no pior e no melhor sentido. E é preciso ter em conta outros fatores de imprevisibilidade que afetam todos, os grande e os pequenos: a percentagem de indecisos (4,5%) e os 22% de inquiridos que só decidem, em definitivo, o seu voto “mais em cima das eleições”. Finalmente, esta amostra aponta para uma taxa de abstenção de 22%, quando se sabe que nas legislativas de 2022, entre os portugueses que residem no território nacional, foi de 42%.
Dados
PSD segura o Centro
O PSD consegue manter a liderança na Região Centro (27,1%), ainda que por escassas décimas. É a Sul que o PS obtém o melhor resultado (46,8%), mas a maior subida, face à última sondagem, é na Região Norte.
20,1%
O partido de André Ventura fica em terceiro lugar em todas as regiões em que se divide a amostra. Mas é na Área Metropolitana de Lisboa (20,1%) que obtém o melhor resultado, a um ponto dos sociais-democratas.
Bloco Central grisalho
Quanto mais velhos os eleitores, maior a intenção de voto no PS e no PSD. Entre aqueles que têm 65 ou mais anos, 76% votariam no “bloco central”. Mas também é nos mais velhos que o PS tem maior vantagem sobre o PSD.
68% dos inquiridos não acreditam que das eleições de 10 de março resulte uma maioria absoluta. Os que menos acreditam nessa possibilidade são os eleitores do Chega e IL (84%) e os mais velhos (83%).
Maioria absoluta
Os eleitores não só não acreditam numa maioria absoluta, como, pelos vistos, não a desejam. Apenas 20% defendem essa solução como a melhor para o país. A adesão é maior entre os eleitores socialistas (30%).
48% dos inquiridos considera que será uma situação política instável aquela que sairá das eleições de 10 de março. Os mais pessimistas são os liberais (71%) e os que residem na Área Metropolitana do Porto (55%).

