Durante 25 dias, o FIMFA Lx25 leva à capital espetáculos de sala, de rua e de pequenas formas, num programa singular que desafia fronteiras artísticas e explora temas como a tradição e o modernismo, a tecnologia e o corpo humano, o humor e a crítica social.
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O Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas de Lisboa, que este ano decorre de 8 de maio a 1 de junho, em vários horários, em dez espaços culturais de Lisboa, celebra um quarto de século. O programa traz novamente à cidade marionetas e formas animadas de todo o mundo, performances e espetáculos vanguardistas, masterclasses e encontros únicos, onde o mote é sempre cruzar a tradição e a inovação.
A partir desta quinta-feira, e até 1 junho, são mais de 20 os espetáculos, oriundos de 13 países, que se irão espalhar pela cidade, levando o multifacetado mundo das formas animadas a cada vez mais pessoas, de todas as idades.
Luís Vieira, diretor do festival, lembra quando tudo começou há 25 anos, “quando pensámos ‘porque não’, haver um festival desta natureza em Lisboa, a apostar na diversidade que este mundo encerra”, conta ao JN. O FIMFA começou primeiro num local único, o Teatro Taborda, “mas até aí já tinha, em termos de conceito de programação, os alicerces do que é hoje, com várias companhias que, já nessa altura, estavam a fazer trabalhos mais inovadores, conjugando, desta maneira, a tradição e a modernidade, que é um dos temas que temos vindo a desenvolver”, refere.
Além deste laço, entre passado e futuro, outro mote do festival é a intergeracionalidade: é um festival “mais focado num público adulto, para combater um pouco a ideia de que as marionetas são só para crianças”, adianta o responsável.
“E na verdade, não é assim, nem nunca foi. E, de facto, durante estes 25 anos, temos muito prazer e muito orgulho até, de termos vindo a construir um público, para o teatro de marionetas, um público que tem um pensamento crítico sobre os espetáculos e que tem conhecimento, de facto, sobre o que é esta vasta realidade do teatro de marionetas e formas animadas – porque o festival se chama Formas Animadas porque não trata apenas exclusivamente do objeto marioneta em si, o boneco antropomórfico, mas inclui uma panóplia de diferentes artistas, de cinema, de pintura, de artes plásticas; e tem diversificado muito esta oferta e que torna o Teatro Marionetas uma espécie de balão de ensaio para as invenções mais novas que se têm vindo a concretizar no plano das artes performativas”, explica ainda.
A arte da efemeridade
Porque a data impulsiona balanços, Luís Vieira faz um apanhado, “muito positivo”, da viagem até aqui. “Essencialmente, estamos muito contentes, porque nunca pensámos ter um projeto que durasse 25 anos, até porque trabalhamos sobre uma arte que é a arte da efemeridade, na verdade, que acontece nos palcos, mas que tem vindo a revelar muito, puxando do ponto de vista da criatividade, e que tem levado muita gente ao teatro e isso para nós é um grande prazer”.
O público do FIMFA é dos “8 aos 80 anos”, tem sido crescente e “alguns deles começaram a vir em miúdos e já são pais; e há pessoas que marcam as férias a pensar no festival”, refere o diretor.
Quanto à dispersão pela cidade, aconteceu numa procura de espaços que pudessem permitir novas ações e trazer novos públicos: este ano, o Festival, com direção artística de Luís Vieira e Rute Ribeiro, é uma produção da companhia A Tarumba – Teatro de Marionetas e decorre em 10 espaços da cidade, nomeadamente São Luiz Teatro Municipal, LU.CA - Teatro Luís de Camões, Teatro Variedades, Museu de Lisboa - Palácio Pimenta, Teatro Romano, Teatro do Bairro, Teatro Taborda, Casa do Comum, Biblioteca de Marvila e Cinemateca Portuguesa.
“Uma Casa de Bonecas” no São Luiz…
Durante 25 dias, Lisboa será então palco de espetáculos de sala, de rua e de pequenas formas, num programa singular que desafia fronteiras artísticas e explora temas como a tradição e o modernismo, a tecnologia e o corpo humano, o humor e a crítica social.
São criações para todas as idades, artistas internacionais, técnicas contemporâneas e ancestrais, espetáculos inovadores, encontros e masterclasses, teatro, dança, cinema e novas tecnologias.
Nesta edição comemorativa um dos destaques da vasta programação recai sobre “Uma casa de bonecas”, no Teatro São Luiz, da aclamada encenadora Yngvild Aspeli e da companhia Plexus Polaire, que junta marionetas de escala humana e teatro visual, num universo inspirado em Ibsen. É a abertura oficial do FIMFA Lx25, hoje e até dia 10, no São Luiz Teatro Municipal.
Outro destaque no São Luiz é “La Frittata”, da companhia francesa Théâtre Gudule, onde uma galinha gigante e um ovo ambulante exploram a eterna questão: quem nasceu primeiro? Também neste Teatro, a companhia francesa Bakélite apresenta “L’Amour du risque”, espetáculo que transforma robots aspiradores em protagonistas de um balllet caótico e cheio de humor; enquanto a companhia canadiana SNAFU traz “Epidermis Circus”, um espetáculo que mistura teatro de objetos e projeção ao vivo, explorando o corpo humano de forma surreal e provocadora.
…e muito mais
O São Luiz Teatro Municipal recebe ainda “Armazém 88”, um espetáculo onde o Teatro de Marionetas do Porto presta homenagem ao legado de João Paulo Seara Cardoso, recuperando marionetas e materiais do seu arquivo. A Tarumba apresenta “Dramas curtos em miniatura”, inspirado em textos curtos de Edward Gordon Craig, que exploram o humor absurdo e a estética surrealista; a companhia francesa La Pendue traz “La manékine”, um espetáculo inspirado num conto dos Irmãos Grimm, misturando marionetas e música ao vivo; e o coletivo francês Stereoptik apresenta “Antichambre”, um cineconcerto ao vivo, onde animação, pintura e teatro de objetos se fundem numa experiência sensorial única.
No Teatro Variedades, a companhia italiana Dewey Dell apresenta um dos grandes outros destaques desta edição do FIMFA Lx: “A sagração da primavera”, uma reinterpretação intensa do clássico de Stravinsky, onde o movimento e os figurinos, inspirados em insetos, criam um ambiente visceral fascinante.
No Teatro do Bairro, “Agencia El Solar. detectives de objetos”, de Shaday Larios e Jomi Oligor (México-Espanha), em estreia absoluta, propõe uma investigação teatral sobre memórias e objetos do quotidiano; “Capital canibal”, dos portuenses Sonoscopia & Teatro de Ferro, oferece uma experiência irreverente e provocadora, misturando punk, salsichas-marionetas e crítica social; e os finlandeses Trial & Theatre apresentam “Nano steps - into the lab”, um espetáculo inovador de marionetas microscópicas. A fechar a programação neste espaço, “Us”, do coletivo belga Midnight, explora a manipulação de facas num espetáculo de alto risco e suspense, onde cada objeto pode despoletar o caos a qualquer momento.
Já o Teatro Taborda recebe “Santa Pulcinella”, do Théâtre Gudule (França), que revisita a tradição napolitana do Pulcinella com muito humor físico e interação direta com o público.
No LU.CA - Teatro Luís de Camões, os mais novos poderão ver “Ponto, Ponto, Ponto”, dos finlandeses Portmanteau, que combinam magia, acrobacia e projeções em retroprojetores; “Anatopias”, de Justine Macadoux & J-A Dupont Castro (França), um espetáculo que conduz o público por uma viagem pictórica e sensorial pelo corpo humano; e “Em suspenso”, do Théâtre l’Articule (Suíça), um espetáculo de marionetas e circo, onde um balão ganha vida de forma surpreendente.
Também a pensar numa programação para toda a família, a companhia Limite Zero apresenta, na Biblioteca de Marvila, “Próxima estação”, um espetáculo que cruza marionetas, vídeo e música, para explorar o universo poético de Fernando Pessoa. No Museu de Lisboa - Palácio Pimenta, há espaço para o tradicional “Teatro Dom Roberto”, apresentado por Ricardo Ávila – Vumteatro; “Box”, do Circo Rum Ba Ba, do Reino Unido, que mistura circo, teatro e marionetas de sombra; e “The Bellhop”, dos espanhóis Hilarilar Marionetas, que transporta o público para a época dourada dos grandes hotéis, com marionetas de fios.
O Teatro Romano acolhe “O Quebra-Nozes: um balé de vegetais”, da companhia checa KHWOSHCH Group, uma versão inesperada e mágica do clássico de Tchaikovsky, interpretado por bailarinos vegetais; e a fechar a programação desta edição do FIMFA Lx25, a
Casa do Comum recebe “Bruno”, da criadora belga Griet Herssens, um espetáculo que apresenta uma história poética e surreal, sobre um rapaz que enfrenta a guerra com imaginação e criatividade.
Além de espetáculos, o FIMFA Lx25 promove um conjunto de atividades paralelas, incluindo workshops, um ciclo de cinema na Cinemateca Portuguesa e conferências, como a sessão As Artes da Marioneta e as Questões de Género, em parceria com a Faculdade de Letras e o CET - Centro de Estudos de Teatro.
A programação completa pode ser consultada online.