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O Porto perdeu a capacidade de discutir, com entusiasmo, os projetos polémicos da cidade. Todos nos recordámos dos projetos para o Parque da Cidade, dos molhes do Douro, das diversas intervenções da Porto 2001 – com destaque para a reabilitação da Av. dos Aliados e o projeto da Casa da Música - como exemplos que provocaram, a favor e contra, intervenções apaixonadas, muitas vezes a roçar a violência verbal. Discussões suportadas em movimentos, manifestações, abaixo-assinados, ampliadas por uma imprensa atenta que, para além do tratamento próprio, abria as suas páginas aos textos dos defensores das várias “teses” sobre os assuntos. Dizíamos, nessa altura, que não havia projeto no Porto que não provocasse polémica… Sinal de uma cidade atenta, de uma comunicação social local forte e de uma vontade de intervir das pessoas a todos os títulos louvável.
Seguiram-se anos de apatia em que o Porto tem sido vítima de várias patifarias, perante a indiferença das pessoas (que se cingem a uns indignados e inconsequentes bitaites nas redes sociais) e uma comunicação social descapitalizada e desatenta. O metrobus da Boavista, a localização da ponte da Linha Rubi, a ponte rodoviária que desemboca numa rotunda na marginal do Porto, vinda do Areinho são alguns exemplos.
Mas eis que, finalmente, o Porto (ou parte dele…) se indigna e mobiliza para discutir as torres previstas para a Praça do Império. Três torres, próximas, que podem atingir os 25 pisos e, dizem alguns, os 100 metros de altura (diga-se que, no Porto, não há nenhum edifício que ultrapasse os 80 metros). Creio que a discussão é legítima e que ainda estamos a tempo de a fazer, designadamente quando vivemos um período de apresentação dos programas das diversas candidaturas autárquicas.
Por isso, que se faça essa discussão. Com paixão mas seriedade. Sem a chantagem de indemnizações a pagar pela Câmara (como se podem justificar as discussões públicas a decorrer, se qualquer recuo implica pagar indemnizações?!). E, naturalmente, deixando decisões finais para os novos órgãos autárquicos, evitando repetir o que se passou em 2002 relativamente aos terrenos do Parque da Cidade. Pela minha parte, saúdo que a cidade saia da sua modorra e readquira a capacidade para se indignar e lutar pelo que acha justo. Porque isso também é… o Porto!