A ministra da Saúde disse, esta quarta-feira, que os hospitais do SNS têm lideranças fraças e anunciou que vai avançar com comissões de acompanhamento e de auditoria aos conselhos de administração para "ajudá-los a cumprir a sua missão". "Não me basta que os administradores venham dizer que não têm condições", afirmou.
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"Nós temos lideranças fracas. Nós precisamos de lideranças à frente dos hospitais e à frente dos serviços que sejam mobilizadoras, que atraiam os jovens profissionais, que os tratem bem. Nós não tratamos bem as pessoas na Administração Pública. Os nossos departamentos de recursos humanos demoram meses a responder a um médico, a um farmacêutico, a um TSDT [Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica], isto não é aceitável", considerou Ana Paula Martins.
Na Comissão de Saúde, a ministra referiu que no âmbito das medidas de eficiência do SNS vai ser criada "uma comissão de acompanhamento e uma comissão de auditoria aos conselhos de administração e não é para hostilizar, bem pelo contrário, é apoiá-los, é ajudá-los a cumprirem a sua missão".
A ministra deu como exemplo de má gestão um hospital, sem revelar o nome, que em janeiro já tinha todos os médicos pediatras a entregar o papel das 150 horas e das 250 horas extra. "E não se fez nada? Esteve-se até agora à espera que fechasse a urgência de pediatria? Isto são bons líderes? Não, não são", enfatizou Ana Paula Martins, adiantando que tem de haver escrutínio e avaliação, "não basta que os administradores venham dizer que não têm condições".
"Não é uma questão de hostilidade volto a referir, é uma questão de exigir porque são empresas públicas", justificou a ministra, adiantando que nas 39 unidades locais de saúde e nos três institutos de oncologia "estão 15 mil milhões de euros dos impostos dos portugueses".
Voltando ao tema das "lideranças fracas", no final da audição, a governante sublinhou a necessidade de atualização da carreira de administrador hospitalar, que data de 1982.
"Precisamos de gestores cada vez mais aptos ao que é um SNS moderno, mais tecnológico e que necessita de mais competências não só de gestão sobre áreas de produção hospitalar, mas na área da mobilização de recursos humanos, na área das chamadas 'soft skills', das competências de relacionamento e gestão de conflitos e também nas de natureza financeira", afirmou.
Ana Paula Martins recordou que a revisão desta carreira consta do programa do Governo e disse que antes de setembro deverá sentar-se à mesa com estes profissionais.
"Esta carreira só admite pessoas que têm formação num determinado estabelecimento de ensino. É, no limite, contra qualquer regra do que é o avanço cientifico, tecnológico e académico", lamentou a ministra, frisando que, com a revisão, a carreira vai estar aberta a profissionais de diversas áreas. "Vamos construir os gestores do SNS do século XXI, o que não foi feito nos últimos anos", disse.
Ministra "perplexa" com diretor-executivo
Em resposta a perguntas dos deputados sobre o funcionamento das urgências de obstetrícia e a falta de informação para o público em geral sobre os serviços que estão a funcionar, a ministra revelou que os mapas não estão publicados porque o diretor-executivo do SNS, demissionário mas ainda em funções, se recusou a colocá-los no site da instituição.
"A Direção Executiva do SNS ainda está em funções, mas como está em gestão corrente considera que não é gestão corrente colocar mapas no site. Ficamos bastante perplexos que gestão corrente não seja pôr uns mapas num site", disse Ana Paula Martins, adiantando que os referidos mapas serão colocados no Portal do SNS amanhã.
O nome do futuro diretor-executivo do SNS, António Gandra d'Almeida, já está a ser avaliado pela CReSAP (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública), avançou a ministra, adiantando que conta que a resolução sobre a nomeação seja aprovada neste ou no próximo Conselho de Ministros.