Foguete. Substantivo masculino a que podemos atribuir vários significados. Pode ser aquele que era, em tempos, o mais rápido comboio a ligar as duas maiores cidades portuguesas. Pode ser uma malha levantada, rasgando perna acima as meias de uma senhora. Ou pode ser... um foguete - shhhhh... puuum - estralejando nos festivos céus de agosto.
Agosto é mês de romarias, factuais e metafóricas. Fixemo-nos nelas e deixemos os foguetes para o fim. Das factuais nada há a explicar, fazem-se em honra de santos e santas e atraem multidões. E daí nasce o sentido metafórico que damos a “romaria” enquanto sinónimo de multidão. Em agosto, Portugal atrai romarias de turistas. Enfim, só mais um pouco do que no resto do ano, pois o turismo tornou-se boia de salvação do país, e ai de quem se atreva a sugerir o perigo de essa dependência ser um potencial fator de desestruturação da sociedade.
Muita gente ainda se espanta se vai a um restaurante e é atendida por empregados brasileiros, ou se pede um transporte e é conduzida por motoristas do Industão. Há razões para isso. Uma delas, não o escamoteemos, são os baixos salários praticados, que afastam os candidatos portugueses, mas não quem atravessou oceanos para lutar pela vida. Outra tem a ver com a “geração mais bem preparada de sempre”. Num país onde o empreendedorismo passa muito por abrir hotéis, restaurantes e lojas de “recuerdos”, as ofertas de emprego indiferenciado sobrepõem-se às de emprego qualificado. E os jovens portugueses pensam em emigrar, não para fugir à miséria, como no passado, mas em busca dos trabalhos para que se prepararam.
A imigração é necessária ao funcionamento de Portugal, embora devamos ser mais exigentes. Por exemplo, falar português é o mínimo para que se ande por aí a conduzir um TVDE. Mas ninguém está a roubar o emprego aos portugueses. Estão, como tantos portugueses na diáspora fizeram, a assumir trabalhos que os locais desdenham, pois quem chega com uma mão à frente e outra atrás não pode desdenhar o que quer que seja.
Assim voltamos à palavra inicial deste texto. Quem tem o desplante de querer um referendo sobre imigrantes precisava de um foguete aceso, agarrando-o com fé ardente até com ele entrar em órbita.
*Jornalista

